Publicado em: 11/10/2023
Apesar do aumento de 27% no total dos recursos oferecidos
pelo Governo Federal para o Plano Safra 2023/2024, totalizando R$ 364,2
bilhões, a demanda atual por crédito do setor do agronegócio, segundo estimativas do setor, é
quase 120% maior. O que obriga principalmente os pequenos e médio produtores a
buscarem alternativas para viabilizar suas produções. Um dos espaços que se
abrem, nesse contexto, é o de modelos que oferecem pacotes completos de
soluções para os proprietários rurais.
“Como o governo supre 45% das necessidades de crédito, os
produtores, que antes precisavam usar 20% das reservas em fluxos de caixa,
passaram a utilizar 70%. O que compacta a rentabilidade do negócio”, disse
Marisa Marques, CFO (Chief Financial Officer) da Corteva, uma das painelistas
do Seminário Agronegócio Lide Estadão, realizado nesta terça-feira, 10, em São
Paulo.
“Os produtores não querem mais insumos apenas, mas soluções
financeiras completas. Por isso, a indústria está buscando maior sofisticação por
meio das fintechs”, disse a executiva da Corteva, empresa essencialmente de
agronegócio que surgiu a partir do legado de outras três companhias: Dow,
DuPont e Pioneer. De forma direta, disse Marisa, a indústria em geral financia
por volta de 30% das necessidades do mercado. Um dos meios mais utilizados,
nesse caso, é o pagamento antecipado pela produção de grãos, que serão
entregues no pós-colheita, transação que não envolve dinheiro.
Números divulgados durante o evento por Azael Pizzolato Neto,
presidente da Aprosoja-SP (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado
de São Paulo), mostram que, no período 2022/2023, a soma do uso de recursos
próprios dos produtores com outra fontes do setor industrial chegam a 81%. O
restante, 19%, foram obtidos por meio de instituições financeiras, seja com
recursos privados ou públicos.
Em termos gerais, segundo Pizzolato Neto, existe um
esgotamento do modelo atual de crédito rural via Plano Safra. Processo agravado
pela crise orçamentária e pela alta taxa de juros. O alto custo administrativo
e tributário para os bancos, ainda segundo o executivo do setor, é outra prova
que mostra a ineficiência do sistema.
A Aprosoja, como apresentou Pizzolato, tem uma série de
propostas para aumentar a irrigação de recursos para o agronegócio nacional.
“Ela passa pela redução dos juros, do custo dos bancos e do fortalecimento de
bancos cooperativos”, disse o dirigente da Aprosoja. Dentro da cadeia agrícola,
segundo vários especialistas do setor, um dos grandes gargalos existentes hoje,
que deveria ser priorizado, é a falta de infraestrutura para a armazenagem dos
grãos. O déficit atual está por volta de 100 milhões de toneladas.
Diante desses desafios sistêmicos, segundo Marcelo Gruber
Velasques, gerente de solução para o Agro do Banco do Brasil, é que as instituições financeiras
precisam atuar. “Um dos objetivos principais deve ser o de trazer os produtores
para métodos melhores, como a agricultura de baixo carbono. A construir
adaptações å mudanças climáticas. É levar o agro para além do crédito”, disse o
gerente do BB.
Raciocínio que está em sintonia com as estratégias da Embrapa, como explicou Silvia Massruhá,
presidente da instituição. Segundo a gestora, funcionária de carreira da casa,
sustentabilidade, transição nutricional, energia, inclusão socioprodutiva rural
e digitalização no campo são temas que fazem parte das prioridades da Embrapa
atualmente. “Temos um grupo voltado para o mercado de carbono, também”, disse
Silvia, que afirmou se sentir orgulhosa quando no exterior chamam a instituição
que ela preside como a Nasa brasileira.
Segurança em dobro
Se sem título de propriedade e conectividade o crédito fica
ainda mais complexo, são nessas duas frentes que o governo do Estado de São
Paulo pretende também atuar de forma mais aguda, segundo Guilherme Piai,
secretário executivo de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Existe um estudo sendo feito pela Embrapa para identificar os
vazios de conectividade que existem no Estado. Por outro lado, empresas
privadas já também conversam com o governo paulista para apresentar propostas
de solução do problema. “O porcentual sem conectividade no campo, hoje, é de
quase 62%. É muito expressivo e existe um potencial de crescimento. É uma
necessidade premente, com mais conectividade, a produção também vai melhorar”,
disse Piai. Drones, por exemplo, poderão ser usados, gerando mais precisão no
dia a dia e diminuindo o desperdício do setor, segundo o secretário executivo
do governo Tarcísio de Freitas. A meta do governo é entregar 100% de
conectividade no campo até o fim do mandato.
Outra frente que será trabalhada, segundo Piai, é a da
entrega de títulos de propriedade de terra, principalmente na região do Pontal
do Paranapanema, uma das mais pobres de São Paulo. “Entregamos mais de 500
títulos para assentados no dia 14 de setembro. A próxima meta é entregar mais
mil títulos no dia 15 de dezembro”, afirmou o secretário. “São todos
individuais, registrados em cartório com memorial descritivo.”
Fonte: Estadão/ Foto: Felipe Rau/Estadão
