Publicado em: 25/09/2023
O Brasil se consolida, cada vez mais, como o maior exportador agrícola do
mundo. O País, que
já era líder nas vendas de café verde, carne bovina, frango in natura, celulose, soja em grão e açúcar, agora também é o maior exportador de milho,
superando os Estados Unidos.
No ano que vem, o País deve ultrapassar os americanos também
na produção de algodão, ocupando a terceira posição no ranking mundial, atrás
de China e Índia. Com a colheita maior, o Brasil tem condições de se tornar o
maior exportador da fibra no mundo, desbancando os Estados Unidos.
A liderança é decorrente de uma série de fatores. No mercado
interno, o País tem batido recordes consecutivos na safra de grãos, resultado
também do aumento da produtividade nacional. A tecnologia do plantio direto, a
irrigação e o melhoramento genético dos cultivares já permitem que os
agricultores brasileiros de forma geral consigam colher até três safras
agrícolas por ano numa mesma área.
No exterior, a quebra de safra nos Estados Unidos e da Argentina por causa do clima e a guerra na
Ucrânia também explicam os números. A redução da oferta dos principais
produtores abriu a perspectiva de aumento das exportações para a grande safra
brasileira.
O’ protagonismo brasileiro no ranking mundial do agronegócio
foi estampado no último relatório do departamento de agricultura dos Estados
Unidos (USDA), de 12 de setembro. Pelo documento, o País exportou 57 milhões de
toneladas de milho ante 42,29 milhões de toneladas dos produtores americanos na
safra 2022/2023, que vai de agosto a julho. Na safra atual, o USDA projeta
exportações de milho de 55 milhões de toneladas para o Brasil e de 52,07
milhões para os Estados Unidos.
No algodão, a perspectiva é que as vendas externas no ano
safra 2023/24 dos Estados Unidos somem 2,67 milhões de toneladas, apenas 100
mil toneladas acima dos volumes exportados pelo Brasil (2,57 milhões de
toneladas). No mesmo período, a expectativa é que o Brasil produza 3 milhões de
toneladas de algodão, à frente dos Estados Unidos (2,859 milhões ).
No caso do milho, na safra 2022/23, a produção total de grão
atingiu quase 132 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab). Com a recuperação da produtividade nos Estados do Sul e
do Mato Grosso, a safra foi 17% maior do que a do ano anterior, que já tinha
sido recorde.
Efeito China
Pereira acrescenta que, em novembro do ano passado, o Brasil
assinou um acordo fitossanitário que pela primeira vez permitiu a exportação de
milho para China. “Neste ano, China já é o maior comprador do milho brasileiro
e isso fez com que a exportação tivesse mais sustentação também”, argumenta.
Além disso, ele destaca o risco da praga da cigarrinha, que é
“bastante preocupante”. Outro fator é a falta de armazéns para estocagem. “Não
adianta crescer demais a produção e não ter onde armazenar: o preço cai demais
e o produtor é obrigado a vender a qualquer preço.”
Apesar disso, ele acredita que esse retrocesso seja
transitório. Nos próximos anos, Silveira diz que o País vai se consolidar na
liderança mundial das exportações de milho. “No médio prazo não tem para
ninguém, só nós, mesmo.”
Pelos seus cálculos, até 2050, o Brasil poderá produzir 400
milhões de toneladas de milho por ano, impulsionado pelo aumento de área e
ganhos de produtividade. Os EUA podem ganhar em produtividade no curto prazo,
mas o aumento de área será mais restrito. Isso porque, se ampliarem a área com
milho, terão de reduzir a de soja. “Área e produtividade no Brasil não têm
limites e se o preço melhorar, muitos produtores que não estão plantando milho
na segunda safra vão começar a plantar.”
De importador a
exportador de algodão
No caso do algodão, as boas perspectivas para a produção e
exportação brasileira são resultado de grandes transformações que ocorrem no
setor. Até os anos 1980, por exemplo, o Brasil era exportador de algodão. A
fibra era produzida em São Paulo e Paraná em pequenas propriedades e colhida
manualmente.
Na época, a praga do bicudo acabou com a produção e o País
passou a ser importador de algodão nos anos 1990, conta Miguel Faus, presidente
da Associação Nacional de exportadores de Algodão (Anea). A volta às
exportações ocorreu com o cultivo do algodão no Centro-Oeste, em grandes
propriedades, com colheita mecanizada.
A partir dos anos 2000, os agricultores do Centro-Oeste
começaram a plantar algodão como segunda safra, em rotação com o milho. “No
Mato Grosso, que é o maior produtor, 80% do algodão hoje é plantado em segunda
safra”, diz o presidente da Anea.
Na produção, o Brasil vai passar os EUA no ano safra
2023/2024, segundo o USDA. A produtividade do algodão brasileiro é hoje de
1.900 quilos por hectare, mais que o dobro da dos Estados Unidos (900 quilos
por hectare). “Na próxima safra, deveremos ter incremento de área de algodão,
pois os preços estão bons, a produtividade é excelente e o milho está hoje com
margem negativa”, observa Faus.
No entanto, ultrapassar os Estados Unidos nas exportações e
se tornar líder nas vendas externas, é uma possibilidade, se, de fato, a quebra
da safra no Estado americano do Texas for maior do que o esperado, diz o
presidente da Anea. Um obstáculo para romper essa barreira é que consumo
interno de algodão no Brasil é grande (cerca de 700 mil toneladas) e supera o
dos EUA, que é de 468 mil toneladas. “O excedente exportável lá é maior do que
aqui”, frisa.
De toda forma, além dos ganhos de produtividade, o setor tem
investido em qualidade e na sustentabilidade da fibra, uma das exigências dos
compradores internacionais.
Faz três anos, por exemplo, que a Associação Brasileira dos
Produtores de Algodão (Abrapa) junto com a Anea iniciaram um programa chamado
Cotton Brazil para promover o produto brasileiro no exterior. O programa tem um
escritório em Cingapura e foram realizadas sete missões internacionais, que
trouxeram representantes de 150 indústrias para conhecer como o algodão
brasileiro é produzido, isto é, seguindo os critérios de sustentabilidade e
qualidade.
Faus diz que o algodão brasileiro está trabalhando em
silêncio. Na sua opinião, a commodity já está repetindo o efeito que a soja
provocou no agronegócio brasileiro. “Passar os EUA é um detalhe para nós.”
Fonte:
Estadão/ Foto: CNA e USDA (RELATÓRIO DE 12/setembro)
