Publicado em: 28/05/2024
A Globo Rural dá a largada, nesta sexta-feira (24/5), à edição de 2024 do Caminhos da Safra, projeto que percorre as principais regiões do Brasil, mapeando a situação da logística de escoamento da produção. A expedição deste ano começa pelo Paraná, com a equipe percorrendo um trajeto de mais de 600 quilômetros por várias regiões.
O roteiro inclui importantes áreas agrícolas paranaenses, como Toledo e Cascavel (no Oeste), Guarapuava (no Centro-Sul), Ponta Grossa (nos Campos Gerais). O destino é o Porto de Paranaguá - um dos principais terminais de exportação do país e um dos maiores graneleiros da América Latina.
Apresentar um raio-X da situação das estradas e também um mapeamento da capacidade de exportação dos portos pelo país estão entre os objetivos. A reportagem ouvirá lideranças do setor produtivo, empresas e produtores rurais para avaliar a situação da logística para o transporte da safra que, mesmo com adversidades e extremos climáticos, tem atingido recordes.
Paraná em alerta
O setor produtivo monitora de perto a logística paranaense, que enfrentou problemas, pelo menos, nos últimos dois anos. As maiores dificuldades começaram após uma série de deslizamentos que paralisaram o tráfego em trechos da BR-277, no fim de 2022, no trajeto que liga Curitiba ao Porto de Paranaguá e ao litoral do Estado.
O trecho ainda é o que mais preocupa, ressalta Nelson Costa, superintendente da Federação e Organização das Cooperativas do Paraná (Fecoopar). O tráfego nos períodos do escoamento da safra de grãos chega a dobrar na região, ultrapassando 50 mil caminhões por mês.
A ligação da capital paranaense ao Porto de Paranaguá é um dos seis trechos que passram a operar sob concessão à iniciativa privada em fevereiro deste ano. Para Costa, há expectativa de melhorias, mas é crucial que todos os demais lotes previstos sejam também concedidos. Ele lembra que a previsão é de que dois dos lotes faltantes tenham a licitação aberta no fim de 2024 e os outros dois em 2025.
Outra demanda urgente para o Estado, aponta, é o investimento em linhas ferroviárias. “É preciso rediscutir a concessão atual, defendemos uma nova licitação, com a participação de mais players, e não a renovação de contrato, uma vez que não estão ocorrendo investimentos”, ressalta.
O contrato com a Rumo Logística para operar a Malha Sul - maior linha ferroviária do Paraná, que corta também Santa Catarina e Rio Grande do Sul - termina em 2027. O governo federal, por meio da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), estuda prorrogar a concessão, em vez de promover uma nova licitação.
A lentidão da BR-277 causada pelos incidentes registrados desde 2022 podem ter gerado até R$ 448 milhões de prejuízos, considerando seis meses com paralisações diárias entre 4 e 5 horas. É o que mostra um da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), contratado pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) e Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Fetranspar), em abril de 2023.
Os autores da pesquisa evidenciaram que o setor de transportes “tende a precificar ineficiências operacionais das rotas”. Nelson Costa, da Fecoopar, enfatiza que os transtornos na rodovia ocorreram após o final da concessão anterior, que terminou em 2021.
“Nesse período de transição, houve atrasos nos trabalhos de manutenção das rodovias, por parte dos governos federal e estadual, causando inúmeros problemas”, reforça o superintendente.
Estradas interrompidas por longos períodos e atrasos no transporte das cargas para o porto, segundo ele, têm reflexo até hoje na logística para o agronegócio paranaense. A Faep também cobra agilidade das concessões rodoviárias no Paraná. E defende pedágios com menor tarifa e realização de obras de acordo com o cronograma.
O presidente da entidade, Ágide Meneguette, observa que as obras de recuperação, com os novos contratos, ainda não tiveram início efetivo. “As estradas se deterioraram muito com o fim das concessões”, enfatiza.
Costa pontua que rodovias em péssimas condições resultam em aumento do custo de produção e do frete, demora no recebimento dos insumos e do escoamento da produção. As condições climáticas instáveis, com possibilidade de chuvas e desmoronamentos ajudam a aumentar a preocupação. “Causa muita apreensão no setor, pois a BR-277, no trecho entre Curitiba e Paranaguá, chegou a ficar 27 dias com interdições totais, entre 15 de outubro de 2022 e 30 de abril de 2023”.
Novas concessões
Desde fevereiro, dois lotes de rodovias concedidas passaram para a operação de empresas privadas. A Via Araucária assumiu o Lote 1, que engloba 473 quilômetros das rodovias BR-277, BR-373, BR-376, BR-476, PR-418, PR-423 e PR-427 que passam por Curitiba, Região Metropolitana, Região Centro-Sul e Campos Gerais.
O Lote 2 está sob administração da EPR Litoral Pioneiro. São 605 quilômetros das rodovias BR-153, BR-277 e BR-369 e as estaduais PR-092, PR-151, PR-239, PR-407, PR-408, PR-411, PR-508, PR-804 e PR-855 entre Curitiba, Litoral do Paraná, Campos Gerais e Norte Pioneiro do Paraná.
As empresas devem realizar obras de melhorias que somam mais de R$ 30 bilhões ao longo dos próximos 30 anos. Também deverão prestar serviços de manutenção e atendimento aos usuários em mais de mil quilômetros de rodovias que compõem os dois trechos.
Para este ano, a Fecoop ainda prevê dificuldades para o transporte rodoviário da produção das cooperativas. Os dois trechos sob concessão representam somente 30% da extensão das rodovias paranaenses. Problemas relacionados a acidentes nas pistas e à manutenção das estradas, de acordo com o superintendente da entidade, estão entre os gargalos em trechos da BR-277 que levam ao Porto de Paranaguá.
Em entrevista à Globo Rural, Marcos Moreira, diretor-presidente da EPR Litoral Pioneiro, enumera obras a curto e médio prazo que, em sua avaliação, aumentarão a fluidez e a segurança no trecho. Moreira explica que até fevereiro de 2025, quando o contrato de concessão completa um ano, será feita a requalificação da rodovia, a fim de trazê-la para uma condição de trafegabilidade positiva.
Do segundo ao quinto ano, o foco será a recuperação da estrada. Estão incluídas obras como pavimentação, instalação de guarda-corpos rodoviários, construção de viadutos, novos traçados, ajustes e manutenção. E do terceiro ao sétimo ano estão incluídas ampliações de capacidade, com a triplicação, ou seja, implantação de uma terceira faixa ao longo do segmento da Serra do Mar.
Além disso, no trecho total de concessão, o executivo destaca que estão previstos 350 quilômetros de duplicação, além da implantação de terceiras faixas. Serão aplicados nas estradas recursos na ordem de R$ 8 bilhões. “Será uma transformação significativa no modal logístico do Estado”, promete.
Em um primeiro momento, o trajeto entre Curitiba e o Porto de Paranaguá deve receber serviços de manutenção como roçada, limpeza e reposição de sinalização, além de tapa-buracos em todo o trecho. Assim como recapeamentos e drenagem, além da manutenção nas encostas, a fim de evitar deslizamentos. “São ações que freiam o desgaste de trechos que estavam sem cuidados. A rodovia passará a ter manutenção adequada e a receber investimentos”, resume.
O que é o Caminhos da Safra
Realizado por Globo Rural, o projeto Caminhos da Safra é uma série que virou referência na cobertura de logística para o agronegócio. Somando todas as edições, as equipes de reportagem já percorreram mais de 100 mil quilômetros em todas as regiões do Brasil.
A edição de 2024 marca 11 anos de projeto. Além do Paraná, as equipes de repotagem percorrerão rotas logísticas do agronegócio em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e no Matopiba (confluência entre os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). A intenção é mostrar os desafios ao longo de cada percurso, além de mapear a situação de importantes terminais portuários para o setor.
Acompanhe pelo site, revista e redes sociais da Globo Rural; pelos jornais O Globo e Valor Econômico e pela Rádio CBN. A edição de 2024 do Caminhos da Safra tem o patrocínio da TIM.
Fonte: Setcepar