Publicado em: 13/12/2023
Foi oficialmente registrada em novembro no Brasil a maior temperatura deste ano: o município mineiro de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, a 678 km de Belo Horizonte, alcançou uma marca histórica de 44,8°C conforme apontado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Os dados analisados indicam que este verão pode ser um dos
mais quentes da história, marcando o auge do El Niño. A cidade de São Paulo,
por exemplo, registrou a sua maior temperatura de 2023, atingindo 36,9°C, sendo
considerada a temperatura mais elevada já registrada para o mês desde o início
das medições do Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE), da
prefeitura, há 19 anos.
Com esse cenário se desenvolvendo, as pretensões climáticas
podem afetar diretamente um setor responsável pela maior movimentação de
mercadorias no país: o transporte rodoviário de cargas.
Segundo Eduardo Leal, secretário-executivo da Associação
Brasileira de Transporte e Logística de Produtos Perigosos (ABTLP), cada um dos
mais de 2.000 produtos classificados possui suas particularidades, com
características únicas que devem ser observadas durante o deslocamento. Em
períodos extremamente quentes, alguns produtos podem acarretar riscos como
combustão espontânea, aumento da pressão nos recipientes, degradação da
embalagem e até possíveis vazamentos.
“É crucial contar com embalagens homologadas para eliminar
tais riscos, além de realizar inspeções regulares em veículos e em
equipamentos. Essas medidas priorizam a segurança, preservando tanto o meio
ambiente quanto a saúde pública”, ressalta Leal.
A associação está concentrando seus esforços no
compartilhamento de conhecimento, na elaboração de diretrizes precisas e na
formulação de planos de emergência colaborativos, buscando enfrentar os riscos
vinculados ao transporte e ao armazenamento de produtos perigosos em condições
de altas temperaturas.
“A ABTLP desempenha um papel crucial ao disponibilizar
informações detalhadas e diretrizes específicas que capacitam os profissionais
do setor a lidar com as operações de transporte sob condições de temperatura
elevada. Disponibilizando um conhecimento especializado, a associação
desempenha um papel direto na proteção dos profissionais ligados ao transporte,
mitigando os riscos de acidentes e de incidentes e realizando a operação com
máxima segurança”, reforça o executivo.
Clima elevado prejudica
o agronegócio da região Sul
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
publicou recentemente seu primeiro prognóstico para a safra de 2024 e estimou
308,5 milhões de toneladas em grãos, cereais e leguminosas. Caso se confirme, a
produção deverá ser 2,8% inferior à deste ano.
Apesar de este ano obter recordes na balança comercial,
impulsionados pela grande movimentação na exportação de mercadorias, o setor
produtivo seguiu enfrentando sérios desafios climáticos que assolaram o país
devido às chuvas intensas e ao calor excessivo.
Franco Gonçalves, gerente administrativo da TKE Logística –
empresa especializada no transporte de produtos alimentícios –, traz uma
retrospectiva do que foi essa temporada e de como o clima vem impactando o
desenvolvimento do setor e, principalmente, da economia do país.
“O momento está sendo marcado pelos efeitos do El Niño; no
entanto, na região Sul do Brasil, estamos vivendo um volume de chuvas acima da
média, o que tem gerado erosão nas estradas, impossibilidade de acessos às
fazendas, quedas de barreiras e de pontes e outras situações que, quando
impossibilitam a operação, acabam aumentando os custos envolvidos, como o
financeiro, além do cronograma”, pondera o executivo.
Já em situações intensas, como o calor excessivo, as empresas
do setor buscam se organizar e implementar iniciativas que auxiliem os
motoristas, que são aqueles que estão na linha de frente. Franco destaca que,
além de os caminhões de sua empresa conterem tecnologias modernas para
auxiliá-los, o bem-estar e a saúde dos colaboradores também está em foco,
especialmente em épocas mais quentes.
“Além do ar-condicionado e do interclima existentes nos
caminhões, em nosso processo de renovação de frota incluímos geladeiras dentro
da cabine para os motoristas obterem um pouco mais de conforto e conseguirem
algo refrigerado durante a viagem. É sempre indicado também cuidar da exposição
excessiva ao sol, do consumo adequado de água e dos alimentos guardados, que se
deterioram com mais facilidade no calor e podem provocar doenças. São esses os
cuidados essenciais que precisamos ter”, relata Gonçalves.
Manutenção de frota
Os fenômenos climáticos causam grande impacto diretamente nas
mercadorias e na saúde das pessoas; por outro lado, o agravante também surge
nas ferramentas de trabalho no segmento do transporte, se tratando do desgaste
dos caminhões.
Marcel Zorzin, diretor operacional da Zorzin Logística,
destaca os desafios enfrentados nos últimos meses, visto que o setor é
responsável por mais de 65% do transporte de mercadorias no país, ou seja,
grande parte da movimentação de veículos nas malhas rodoviárias é de carretas.
“Sem dúvidas, o maior prejudicado são os veículos,
especialmente os pneus. Com as altas temperaturas do asfalto, a banda de
rodagem aquece e acaba amolecendo, como se fosse uma borracha, causando um
desgaste maior do que o normal. Apesar de a maioria dos pneus atuais ser
tropicalizada no Brasil, ainda existe essa preocupação”, comenta o executivo.
“Consequentemente, isso afeta outras estruturas dos
caminhões, como alinhamento e peças, dentre outros componentes, o que
influencia diretamente no desempenho do trabalho”, reforça.
Os dados mostram que as mudanças climáticas mais intensas vêm
causando sérios riscos dentro do transporte. Para isso, as organizações e as
entidades buscam movimentações para amenizar os impactos.
“Temos mapeado todas essas questões e tentando administrar os
problemas da melhor maneira possível. Internamente, na Zorzin, trabalhamos com
uma gestão de frota eficiente, contemplando os veículos com pneus novos e de
alta qualidade para que tanto os motoristas quanto os nossos parceiros
comerciais não sejam prejudicados. É uma tarefa complicada, mas precisa ser
parte do nosso escopo de trabalho”, finaliza Marcel Zorzin.
Fonte: Assessoria/ Foto: Divulgação
