Publicado em: 16/11/2023
Em um contexto social que busca
intensificar a equidade e a diversidade nas empresas, especialmente com a
crescente atenção ao ESG (sigla para políticas ambientais, sociais e de
governança), no qual a equidade de gênero é um dos objetivos a serem alcançados,
o setor de transporte rodoviário de cargas (TRC) ainda enfrenta desafios
significativos nessa área.
Dados recentes divulgados pelo
Instituto Paulista do Transporte de Cargas (IPTC) revelaram que, em 2021, houve
32.094 contratações femininas para cargos no setor de transporte em São Paulo.
Esse aumento representa um crescimento de 61% em relação a 2020, especialmente
nas áreas administrativa e comercial, com representatividade feminina de 52% e
56%, respectivamente. No setor operacional, foram registradas 13.741
contratações femininas em comparação com 125 mil masculinas.
De acordo com dados expostos pelo
IPTC em 2023, no entanto, mostram que 40% das empresas que fizeram parte da
pesquisa possuem alguma estratégia para o aumento da contratação de mulheres.
63% das empresas alegam que contrataram mulheres para cargos de liderança no
último ano.
Apesar desse progresso, a disparidade
persistente entre os gêneros continua a ser uma preocupação, impedindo o avanço
efetivo dessa temática no setor e prejudicando as oportunidades de ascensão
para as mulheres.
Gislaine Zorzin, diretora
administrativa da Zorzin Logística, destaca a importância de ações contínuas
por parte das empresas e das entidades do TRC para promover mudanças nesse
cenário, ainda desigual: “É crucial manter a constância nessas iniciativas para
progredirmos cada vez mais na equidade e na diversidade de gênero no transporte
rodoviário de cargas".
Diante desse desafio, a executiva
destaca a necessidade de projetos robustos e frequentes no setor para
impulsionar a promoção da diversidade. Iniciativas como o Movimento
Vez&Voz, do Sindicato das Empresas de Transporte de São Paulo (Setcesp),
que é um dos pioneiros a abordar essa temática no TRC, desempenham um papel
crucial na conscientização dentro das empresas parceiras do movimento.
Participante ativa do projeto,
Gislaine Zorzin enfatiza: “Queremos ver a ascensão das mulheres no TRC crescer
ainda mais. Por meio do Movimento Vez&Voz, buscamos capacitar esse público
e disseminar informações. Utilizamos também os números das pesquisas do IPTC
como referência para entender o quanto ainda precisamos progredir. O importante
é não parar”.
Por um TRC mais diverso
Idealizado há três anos pela presidente executiva do Setcesp,
Ana Jarrouge, o Movimento Vez&Voz surgiu por conta de sua participação
ativa no setor: “A necessidade decorre da minha atuação e percepção do TRC,
primeiro, por experiência própria, durante os quase 20 anos que trabalhei em
empresa de transporte familiar (desde 1996) e depois quando comecei atuar nas
entidades de classe (em 2004). Com minhas andanças pelo Brasil, pela Comjovem,
pude constatar que nosso segmento ainda é dominado pela presença majoritária de
homens”, comenta.
Segundo levantamento do Índice de Equidade, desenvolvido
neste ano pelo IPTC, ainda falta muito para que a inclusão feminina dentro TRC
esteja em um patamar minimamente aceitável. A apuração atesta, em suma, que
apenas 3% dos quadros de empresas são representados por mulheres que atuam em
cargos motoristas e de alta direção. De forma geral, considerando todas as
funções dentro das transportadoras, os números chegam a 15%.
“O Vez&Voz tem por essência a missão de valorizar as
mulheres que já atuam no setor, em todas as funções, e fomentar seu crescimento
para que cheguem aos altos cargos de gestão, se assim desejarem”, continua
Jarrouge. No entanto, é também objetivo do movimento a preocupação com as novas
gerações do transporte rodoviário de cargas: “Queremos inspirar outras mulheres
a enxergarem o transporte como uma oportunidade de trabalho possível,
especialmente para função de motorista. Nosso setor está enfrentando problemas
de falta de mão de obra há anos e acreditamos que as mulheres têm potencial de
ajudar nesta questão crucial para a sustentabilidade do TRC. Por isso, achamos
importante levantar essa bandeira e buscar soluções para alcançarmos a equidade
de gênero dentro do setor. Além disso, também incentivamos a presença delas nas
entidades de classe, uma atuação política necessária para que também sejam
devidamente representadas.”
O movimento hoje já faz história: cerca de 51 empresas
transportadoras e 23 entidades de classe são signatárias de suas propostas e
iniciativas. “Só de colocarmos este assunto em debate, já entendemos que
fazemos a diferença! Essa movimentação vem transformando a percepção das
empresas e, consequentemente, de seus modelos de contratação, de capacitação,
de treinamento e de posicionamento”, enfatiza Ana.
Além da mudança das convenções sociais e do paradigma dentro
de todo o setor do TRC, o movimento também iniciará agora um novo capítulo de
sua história: no dia 31 de outubro, por meio de uma live no canal do YouTube do
Setcesp e do Vez&Voz, o 1º Prêmio Vez&Voz foi anunciado e cujas
inscrições estão abertas até o dia 15/12/2023.
A ideia da premiação é enaltecer e agraciar projetos
desenvolvidos dentro de empresas que envolvam a diversidade e inclusão de
gênero dentro de seus espaços. As três categorias nas quais os signatários
podem se inscrever são motorista, para os projetos direcionados para a
contratação, capacitação e promoção das mulheres em cargos de motoristas
profissionais; liderança, para projetos e iniciativas voltados à contratação, à
capacitação e à promoção das mulheres em cargos de alta liderança; e Mais
Mulheres no TRC, projetos e iniciativas dedicados à ampliação da quantidade de
mulheres dentro das empresas, da igualdade de oportunidades, da equidade de
gênero e do desenvolvimento pessoal.
Para mais informações sobre o prêmio e sobre o movimento em
si, acesse o site:
https://www.vezevoz.org/.
