Publicado em: 17/07/2023
Ainda que o uso de inteligência artificial já seja comum em
diversos países, inclusive no Brasil, não somente para para o reforço da
segurança pública, mas, também, para evitar a sonegação fiscal, contribuir com
a fiscalização ambiental e com o transporte de cargas e veículos, no estado do
Paraná a tecnologia não está sendo prevista nos novos editais de licitação do
pacote de concessão de rodovias.
Diferentemente do que aconteceu nos estados do Espírito
Santo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, por exemplo, no que se refere ao uso de
tecnologias e ‘inovações’, no edital do Paraná, cujo leilão está agendado
para 29 de setembro, na Bolsa de Valores, a partir das 14 horas, estão
previstas apenas câmeras que permitem reconhecimento de placas de veículos. E,
em alguns pontos estratégicos; painéis de mensagem variável (PMV) –
dispositivo para exibir mensagens informativas aos motoristas –
sistema de pesagem de caminhões (WIM) e iluminação em LED.
Há pouco tempo – trinta dias após a divulgação do edital do
lote 1, a Agência
Nacional de Transportes Terrestres – ANTT – publicou o segundo
edital – lote 2 – do pacote de concessões de rodovias paranaenses, cujo valor
está estimado em R$ 17,3 bilhões (US$ 3,55 bi), que envolve trechos das
rodovias federais BR-153, BR-277 e BR-369 e estaduais PR-092, PR-151, PR-239,
PR-407, PR-408, PR-411, PR-508, PR-804 e PR-855, abrangendo as regiões de
Curitiba, Litoral, Campos Gerais e Norte Pioneiro.
Avanço no uso de Inteligência Artificial
Para o engenheiro civil, Ricardo Junqueira Victorelli,
pós-graduado em infraestrutura e finanças e consultor na área de operação
rodoviária, o modelo de tecnologia que consta no edital não é inovador, visto
que está aquém do que vem sendo praticado em concessões estaduais que
contemplam soluções abrangentes de integração da concessão com o ente público.
“A inovação atualmente está no uso de inteligência
artificial com monitoramento em tempo real, integrado por uma data base que
possibilite aumento no tempo de resposta e menor demanda de recursos humanos
para controle e fiscalização das vias e rodovias que farão parte da concessão”,
esclarece o especialista.
Victorelli ressalta ainda que o desenvolvimento da
inteligência artificial, com máquinas capazes de realizar tarefas e aprender a
usar os mesmos dados para medir, gerenciar e planejar, deverá trazer mudanças
ilimitadas na área de sustentabilidade no trânsito, com o cruzamento de
informações para o planejamento de mobilidade no Brasil, a exemplo do programa Cerco
Inteligente, implementado pelo Governo do Espírito Santo em rodovias.
De acordo com ele, as informações obtidas por equipamentos
de tecnologia em mobilidade e trânsito estão garantindo um aumento de 90% no
tempo de resposta da Secretaria de Segurança Pública do Espírito Santo, nas
operações de repressão a crimes como roubo de veículos, tráfico de drogas,
evasão fiscal e outros.
O projeto, ainda segundo o engenheiro, conta com um sistema
formado por 900 câmeras instaladas em 290 pontos de fiscalização, incluindo as
divisas do Estado, que fazem o monitoramento de aproximadamente 1650 faixas em
vias e rodovias. Também integram o sistema 90 pontos de coleta de imagens
com balanças de pesagem em movimento (WIM – Weight in Motion). “Todos os
equipamentos trabalham de maneira integrada. Assim, entregando análise de dados
com base em imagens, vídeos e ferramentas de investigação. Dessa forma, tendo
como um dos diferenciais da inteligência artificial do Cerco Inteligente,
o big data, que possibilita o envio de um conjunto de dados maior e mais
complexo com qualidade de informação”, destaca.
O sistema também permite o monitoramento de 250 carros por
segundo e a identificação de mais de 30 características diferentes em cada
passagem de veículo. Entre elas, informações como indicativo de placa clonada,
restrição de furto ou roubo, restrições judiciais e restrições administrativas.
Como, por exemplo, autorização de transporte escolar e GNV vencidos. “No edital
do segundo lote do Paraná não consta este tipo de sistema. E ele representa
realmente inovação na área de mobilidade e de segurança no trânsito”,
acrescenta Victorelli.
Praças de Pedágio
A construção de novas praças de pedágio, que têm um custo
médio de cada cabine em torno de R?1 milhão para implantação também foi
incluido no edital. Ele prevê sete praças de pedágio em São José dos
Pinhais, Sengés, Jacarezinho, Jacarezinho 2, Carambeí, Jaguariaíva e Quatiguá.
Estas deverão ser restauradas e modernizadas para atender às demandas e
necessidades da região. Enquanto as praças de São José dos Pinhais,
Jacarezinho, Carambeí e Jaguariaíva passarão por melhorias, já as praças de
Senges, Jacarezinho 2 e Quatiguá serão construídas.
No entanto, de acordo com o engenheiro civil, Ricardo
Junqueira Victorelli, o estado do Paraná possui tecnologia para desenvolver e
implementar o sistema de livre passagem em rodovias e vias urbanas, o
chamado free-flow. No Chile, por exemplo, o sistema já funciona há
mais de dez anos. Foi o primeiro país a adotar este sistema nas concessões de
rodovias, em 2004, sendo bem avaliado pelos usuários que seguem as regras
estabelecidas. É obrigatório para quem circula nas rodovias ter o sistema de
pagamento que faz a cobrança automatizada. Quem anda nas rodovias sem o sistema
pode fazer o pagamento posteriormente e, se não pagar, recebe multa.
No Brasil, com a alteração do Código de Trânsito Brasileiro
– CTB, a Lei 14.157/21 regulamentou a possibilidade de se criar a alternativa
de passagem, sem praças de cobrança. O pagamento passaria a ser feito de acordo
com a quantidade de quilômetros rodados. “O edital prevê descritivo do
ítem free-flow, mas no quantitativo não pede a instalação de nenhum
sistema. Se no futuro o órgão pedir a implantação, o concessionário só
incorpora este item e reequilibra o contrato”, explica o especialista.
Sistema free-flow na concessão de rodovias
O free-flow funciona por meio da implementação de
equipamentos instalados sobre ou ao lado da rodovia. Além disso, possibilitam a
identificação automática e eletrônica do veículo. A detecção de cada veículo
acontece por meio de uma identificação por radiofrequência (RFID) ou por câmera
de reconhecimento óptico de caracteres (OCR). “A ideia do
pedágio free-flow é cobrar de uma maneira igualitária todos que
utilizam o sistema. Ou seja, de acordo com a quantidade de quilômetros que
foram rodados”, ilustra Victorelli.
Segundo ele, os equipamentos do free-flow também
podem registrar informações de excesso de velocidade. Além disso, número de
veículos que se deslocam de uma origem a um destino, de acordo com o horário.
E, também, modo de transporte utilizado, (matriz origem/destino), velocidade
média, tempo médio de percurso e outros. “O sistema de livre passagem
representa uma quebra de paradigma. Além, claro, de contribuir para solucionar
gargalos logísticos no país e ao mesmo tempo reduzir os custos no transporte de
cargas. Assim, com uma cobrança tarifária mais justa ao usuário. Outra vantagem
é que o free-flow evita o trânsito e elimina a barreira entre cidades
e municípios separadas por praças de pedágio. Assim, moradores deixam de ter
que parar para apresentar a documentação no pedágio, reduzindo o tempo do
arrecadador, da população e desonerando o município”, considera.
Por fim, Victorelli, destaca a questão do cálculo da tarifa
do pedágio. Isso acontece multiplicando a tarifa básica do pedágio pelo número
de quilômetros existente entre uma praça e outra.
“Esta é a base de cálculo nas atuais concessões realizadas
pelo governo federal. Com o free-flow o cálculo seria entre um
pórtico e outro. No entanto, a concessionária deixa de ter o custo operacional
e humano de uma cabine de pedágio e que, atualmente, é repassada ao usuário”,
afirma e finaliza o engenheiro que atuou como diretor de concessionária por 21
anos.
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Fonte: Portal do Trânsito / Foto: Divulgação/Canva
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