Publicado em: 27/01/2022
Ana Jarrouge é a atual
presidente-executiva do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de São
Paulo e região – SETCESP e diretora da CNT – Seção II do Transporte Rodoviário
de Cargas. Com MBA em Gestão de Pessoas, Ana defende o setor de transporte há
mais de nove anos e já atuou como coordenadora nacional da Comissão de Jovens
Empresários – COMJOVEM, da NTC&Logística – Associação Nacional do
Transporte de Cargas e Logística. Nesta entrevista, enquanto coautora da obra “Experiências na gestão para a inovação do transporte de cargas brasileiro”, organizado pelo IT Talks e publicado pela
Pragmatha Editora, ela fala sobre o protagonismo feminino no setor.
A
mulher tem crescido em importância no setor de transporte de cargas rodoviário.
Quais são as conquistas mais recentes?
Acredito que as conquistas vão desde a
percepção que as empresas estão tendo sobre o papel da mulher e as
oportunidades nas quais pode inseri-la, notadamente na função operacional de
motorista profissional, até a concretização e engajamento crescentes de movimentos
voltados para este público, como o Vez e Voz do SETCESP, A Voz Delas da
Mercedes Benz, The Queen of the road da SCANIA, Rota Feminina da IC
Transportes, e outros programas internos de empresas e instituições que
valorizam o trabalho e a participação feminina no nosso segmento, como na
Braspress, na Transjordano, na Pizzattolog e na FABET. Estes fatos demonstram
claramente que o mercado de transporte rodoviário de cargas está atento e
aberto para receber a mão de obra feminina, em qualquer posição, de igual para
igual com os homens. Há longo caminho pela frente, e será papel fundamental das
entidades de classe orientar e ajudar as empresas a efetivamente adotar
programas de inclusão social e equidade de gênero, porque para contratar e
reter talentos não pode haver qualquer barreira.
Como sua trajetória influenciou
para que você se interessasse pelo protagonismo feminino no setor?
Desde que me conheço por gente estou
inserida no segmento de transportes e pude perceber que, de fato, tratava-se de
um ambiente dominado pela presença masculina. Quando comecei a trabalhar na
transportadora do meu pai, aos 16 anos, isso ficou mais latente ainda e desde
esta época aprendi a lidar, a me posicionar e demonstrar minha capacidade. Aos
27 anos, quando comecei a frequentar as entidades de classe, também pude
constatar que as mulheres ainda eram poucas e que tínhamos que fazer algo,
razão pela qual eu participava arduamente de todas as reuniões, visitas e
qualquer oportunidade, justamente para mostrar a elas que eram bem-vindas e
podiam contribuir com o setor. E isso foi acontecendo de forma orgânica, elas
foram aparecendo e hoje muitas participam. A questão é não perder nenhuma
oportunidade que lhe é oferecida. Mesmo que no momento tenhamos alguma
insegurança, temos que abraçar e seguir em frente que as coisas se ajeitam e
encontramos pessoas muito dispostas a nos ajudar. Basta ter humildade,
transparência e propósito.
Você
fala em seu artigo que já se avançou na pauta, porém ainda existe muito caminho
pela frente. Como as mulheres se posicionam e reagem em relação a esse novo
cenário, de ruptura?
Eu vejo as mulheres muito preparadas,
engajadas e unidas. Sinto que há muita vontade em colaborar e que a cada dia
elas assumem novos desafios para se preparar para isto. Não vou dizer que tudo
são flores, porque não são. Muitas vezes percebemos que discursos estão
completamente desalinhados da prática e nós somos deixadas de escanteio em
algumas questões. Mas tudo isso faz parte do processo. Não podemos desanimar e
não vamos. Seguimos firmes no propósito de que as empresas e entidades do
transporte rodoviário de cargas sejam cada dia mais um ambiente de diversidade
e com equidade de gênero, pois este é o único caminho para renovação e
desenvolvimento sustentável do nosso setor.
Quais os próximos passos nesta jornada de valorização da mulher?
Vamos ajustar e melhorar as ações do
Movimento Vez e Voz, para que ele efetivamente atinja seus objetivos de
valorização e crescimento profissional das mulheres no TRC. Ademais, pretendemos
contar com ajuda cada vez mais de empresas e entidades, como apoiadores
institucionais do Movimento, porque temos claro que sozinho ninguém faz nada e
precisamos de muitos braços para nos apoiar e ajudar na divulgação do Vez e
Voz.
Fonte: Pragmatha