Publicado em: 03/10/2024

Fabricantes de caminhões estão comprometidas no desenvolvimento de soluções para um transporte eficiente e limpo com redução de emissões no meio ambiente e custos operacionais. A sustentabilidade está entre as principais preocupação do setor de transporte rodoviário de cargas. Dentro desse contexto, a transição energética lidera as discussões por ser um dos principais caminhos para reduzir a emissão de poluentes e minimizar os impactos ambientais.

De acordo com nova proposta de meta climática para o Brasil, publicada pelo Observatório do Clima, para o país limitar o aquecimento da Terra a 1,5oC, como determina o Acordo de Paris, é necessário cortar suas emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 92% até 2035. Isso significa limitar a emissão a 200 milhões de toneladas líquidas.

O Balanço Global do Acordo de Paris, finalizado na COP28, em Dubai, traz uma meta para 2035 compatível com 1,5oC, aumenta a ambição da meta de 2030 e inicia a eliminação gradual dos combustíveis fósseis no Brasil, propondo a redução do uso deles em 42% (80% do carvão mineral, 38% dos derivados de petróleo e 42% do gás fóssil).

De olho nessas metas, as fabricantes estão comprometidas com práticas ambientais responsáveis e com a redução do impacto ambiental de suas operações e assumiram o compromisso de disponibilizar produtos e soluções que contribuam para a redução de CO2 no planeta e tragam mais eficiência ao transporte.

Transporte eficiente e limpo: programação de renovação de frota é importante para melhorar a idade média dos caminhões 

Para Carlos Fraga – diretor de Marketing e Desenvolvimento de Rede da Iveco para a América Latina, o Euro VI, sem dúvida, foi um avanço significativo no sentido de diminuir a emissão de poluentes e tornar o transporte de cargas mais sustentável. Porém, reforça o longo caminho para a descarbonização do setor.

Outro ponto abordado por Fraga é o novo Programa de Renovação de Frota, o qual o governo estuda ser permanente para caminhões e ônibus. “É fundamental que tenhamos um programa robusto de renovação de frota com o objetivo de retirar de circulação milhares de caminhões antigos das ruas e estradas, contribuindo para a segurança e para o desafio climático”, opinou.

Fraga ressalta também a importância dos veículos movidos à propulsão alternativa. No Brasil, o caminho, no curto e médio prazo, está em tecnologias para o uso de gás natural, biometano e biodiesel. Nossa discussão não é acerca de qual tecnologia é melhor, mas qual ou quais são ideais para a matriz energética do país e que agregam maior valor.

Na opinião de Fraga, o desafio para a descarbonização envolve diversos fatores, como a ampliação da estrutura de carregamento para veículos elétricos, maior apoio do poder público por meio de legislações e incentivos, entre outros. “Não é sobre fornecer um caminhão a gás ou elétrico isoladamente. Precisamos que o produto ofereça soluções agregadas, como um plano de manutenção reduzido, inteligência de dados sobre emissões e serviços conectados. Os próximos passos incluem o avanço na tecnologia de baterias e na infraestrutura de carregamento para veículos elétricos, veículos movidos a células de hidrogênio, entre outras iniciativas nesse sentido”.

“Neste ano, já iniciamos a comercialização do nosso portfólio multienergético com o S-Way NG e o eDaily. Em breve, o Tector NG, fabricado na Argentina, também será comercializado. Somos a única montadora do segmento com um portfólio 100% verde, impulsionado exclusivamente por energia renovável, seja eletricidade, gás natural ou biometano”, disse.

Transporte eficiente e limpo: é importante o operador adquirir um caminhão mais tecnológico e menos poluente e manter a rentabilidade operacional

Jefferson Ferrarez, vice-presidente de Vendas, Marketing e Peças & Serviços Caminhões da Mercedes-Benz do Brasil, o setor de transporte evoluiu em relação as emissões de gases nocivos à saúde. “Um caminhão antigo que rodava nas normas de emissões do Proconve P2, polui hoje, em NOx, o mesmo que 55 caminhões Euro 6 e em termos de  material particulado, são necessários 135 veículos”, comparou

Ferrarez destaca também que em termos de tecnologia os caminhões da marca estão cada vez mais eficientes no que se refere a redução do consumo de combustível. Ele cita como exemplo o motor Mercedes-Benz OM 471 LA, com sistemas de injeção, que reduzem os níveis de emissões de CO2, atende à norma Proncove P8 e, em comparação com a linha Euro 5, apresenta até 8% de economia.

Outro ponto explorado por Ferrarez são os combustíveis alternativos. Dentro desse contexto o executivo ressalta que a empresa está preparada para trabalhar com medidas sustentáveis como o HVO e o Biodiesel, este último, aliás, já está nos planos do Governo Federal.  “O Grupo Daimler detém uma variedade de soluções alternativas para o transporte, como eletrificação e célula de combustível a hidrogênio”, disse.

Para Ferrarez, o grande desafio para um transporte mais sustentável é a viabilidade econômica, ou seja, fazer com que a conta feche de uma maneira que o operador consiga adquirir um caminhão mais tecnológico e menos poluente, sem que isso traga impacto negativo em termos de custos, preservando assim a rentabilidade operacional.

“Uma vez que todas essas alternativas são voltadas para a sociedade, o operador precisa de saúde financeira para conseguir adquirir essas soluções que a sociedade e o meio ambiente tanto precisam”, afirmou

Transporte eficiente e limpo: o gás é apenas uma das alternativas disponíveis como combustível para reduzir as emissões do transporte rodoviário

O gerente de Vendas de Soluções a frotistas da Scania Operações Comerciais Brasil, André Gentil, acredita que o setor de transporte evoluiu bastante na questão de redução de emissão nos últimos 20 anos. Ele explica que quando o Brasil saiu de caminhões Euro zero para Euro 6 ganhou em eficiência, rentabilidade, economia e sustentabilidade. “A redução foi de aproximadamente 85% em óxido de carbono e 90% particulado.  A indústria de maneira geral está olhando muito forte para essa questão e isso é bastante positivo já que o setor de transporte é responsável por 16% das emissões de poluentes”, disse.

Gentil lembra que em 2016, a Scania assumiu um compromisso de liderar essa transição, lançou a linha NTG e em seguida já colocou os caminhões a gás. Atualmente a fabricante já atingiu a marca de mil caminhões à gás vendidos. Considerando ser uma tecnologia de combustível nova e termos a questão de infraestrutura é um bom número.

“Quando iniciamos o projeto do gás existiam poucos postos então as rotas tinham que ser curtas.  Hoje essa estrutura cresceu e é possível rotas mais longas. E estamos falando de quatro anos. Ainda temos um caminho a percorrer e estamos em conversa com o governo para aumentar a quantidade de postos pelo País”.

Recentemente a montadora lançou dois  caminhões pesados de 420 e 460cv movidos a gás GNV ou Biometano. Os novos modelos são preparados para uma autonomia de até 650 quilômetros com um único abastecimento. Gentil destaca que a versão GH 460 6×4 representa a entrada de caminhões a gás no agronegócio. Ele define o lançamento como um marco para a Scania e para o mercado.

O gás é apenas uma das alternativas disponíveis como combustível para reduzir as emissões do transporte rodoviário. Outras soluções exploradas pela Scania são o Biodiesel, Biogás, HVO, Eletricidade, gás Natural, Bioetanol, entre outras soluções. “Acredito que teremos várias tecnologias para atender diversas aplicações. O biodiesel deve atender longas distâncias, o gás média e o elétrico curtas. A logística vai ter que se estruturar de forma a criar suas distâncias, suas rotas e fazer tudo dar certo. Sem contar que temos outros combustíveis, HVO, veículos híbridos”, explicou.

Uma das missões da engenharia é tornar os produtos sustentáveis e com resultados positivos ao cliente como redução de combustível e também do TCO. Como exemplo posso citar a linha Super e a Plus, com valor mais acessível. Temos uma linha completa de veículos para atingir todo tipo de cliente”, destacou.

Transporte eficiente e limpo: o caminho para um transporte de carga mais sustentável depende da parceria e colaboração de toda a cadeia

Para Priscila Freire Rocha, gerente de sustentabilidade da Volkswagen Caminhões e Ônibus, houve uma evolução significativa na conscientização sobre os impactos ambientais do transporte de cargas. As inovações tecnológicas e melhorias de eficiência dos motores, além do exigido em legislação, contribuíram para a redução das emissões de poluentes. “A sustentabilidade está no centro das nossas estratégias de negócios e desenvolvimento de produtos. Entendemos que não é uma tendência, mas uma necessidade para o futuro da mobilidade e do transporte de cargas”, explicou.

A executiva, explica que a montadora está focada no desenvolvimento de veículos elétricos e estudos para o uso de combustíveis alternativos, como os biocombustíveis e, também, trabalha para garantir um processo produtivo cada vez mais alinhado às práticas de economia circular e descarbonização. “Na planta de Resende/RJ, por exemplo, contamos com 71% de energia renovável certificada”, afirmou.

Rocha destaca algumas conquistas da fabricante na área de sustentabilidade globalmente, resultado de diversas ações e estratégias. Uma das conquistas citadas foi a redução de 10,7 % de emissão de carbono nas operações e uso de energia elétrica nas fábricas, em 2023 com relação a 2021.

“A sustentabilidade está no centro das nossas estratégias de negócios e desenvolvimento de produtos. A Volkswagen Caminhões e Ônibus entende que a sustentabilidade não é uma tendência, mas uma necessidade para o futuro da mobilidade e do transporte de cargas”.

Na opinião da executiva, o caminho para um transporte de carga mais sustentável depende da parceria e colaboração de toda a cadeia produtiva, desde fabricantes, operadores logísticos a clientes finais. “Somente unindo nossas forças e propósitos é que aceleraremos a transição que tanto desejamos, para um mundo descarbonizado, justo e próspero.

Transporte eficiente e limpo: o caminho para a descarbonização não pode ficar limitado apenas a uma solução

Para Bruno Vasconcellos, especialista em meio ambiente da Volvo, o caminho para a descarbonização não pode ficar limitado apenas a uma solução. É preciso levar em consideração uma série de variáveis como a oferta tecnológica, recursos de fomento e infraestrutura de abastecimento dos veículos.

No caso da Volvo, conforme explica Vasconcellos, algumas tecnologias já estão disponíveis e outras em desenvolvimento. Entre elas, os caminhões elétricos à bateria, combustíveis alterativos ao diesel fóssil, biocombustível (como o biodiesel), HVO (diesel verde), biogás e hidrogênio e células de combustível a hidrogênio, que geram eletricidade para mover o veículo.

“Enquanto estes modelos ainda não tiverem uma escala razoável que os tornem viáveis tecnológica, comercial e operacionalmente, vamos focar muito na eficiência energética, desenvolvendo motores mais limpos e que tirem o máximo de proveito da tecnologia atual. Dentre as soluções de combustíveis alternativos um exemplo é a nossa oferta recente de caminhões compatíveis a circular com até 100% de Biodiesel (B100), disponíveis sob consulta”, explicou.

Para Vasconcellos o grande desafio seja o fato de toda essa transformação e compromisso depender de toda a cadeia produtiva. É uma transformação ampla, não apenas dos fabricantes de caminhão. Ele cita o caso dos combustíveis alternativos, como o HVO e o Biodiesel 100%. “Nós fabricamos o veículo, não produzimos o combustível, e os desafios ainda são grandes na cadeia de abastecimento e distribuição, inclusive com relação aos preços dos produtos”, explicou.

A Volvo assumiu o compromisso de alinhar seus esforços de redução dos gases de efeito estufa, com o objetivo de alcançar a emissão zero de carbono fóssil em sua cadeia de produção de valor até 2040, e com reduções significativas já em 2030. Para que toda a frota rodante tenha emissões zero até 2050, é necessário que todos os produtos entregues após 2040 não utilizem fontes fósseis de energia. Assim, é necessário reduzir as emissões de CO2, principalmente de origem fóssil. Essa meta prevê a redução de 50% das emissões em 2030, e de 100% até 2040, para que alcancemos o equilíbrio zero líquido em 2050.

“A sustentabilidade e o que se chama hoje de ESG ganharam uma proporção muito grande e não devem mais serem caracterizados como um diferencial. É algo crucial para os negócios e para o planeta. Quem não prosperar e não tiver compromissos sólidos nessa agenda vai certamente perder competitividade”, disse.



Fonte: O Carreteiro

Fabricantes desenvolvem soluções para transporte eficiente e limpo