Publicado em: 16/11/2023
A recém-empossada diretoria da Federação das Indústrias do
Estado do Paraná (Fiep), presidida pelo empresário de Cascavel Edson
Vasconcelos, está há cerca de um mês com um intenso trabalho a campo para
avaliar, segmento a segmento, os impactos da reforma tributária à indústria do
estado.
Um dos temores é para a indústria de alimentos que, em grande
parte, já tinha um esquema tributário diferenciado por operar no sistema
cooperativista. “O risco de piorar o que tínhamos é muito grande, vai depende
das avaliações”, disse Vasconcellos, ao considerar as exportações do segmento.
Coordenado pelo Conselho Tributário da Fiep, o levantamento
iniciou pelo setor têxtil. Vocacionado ao agro, o estado do Paraná conta com
importantes parques industriais voltados à produção de alimentos, segmento
têxtil, metalmecânica, indústria moveleira e cultivo madeireiro.
A Fiep quer ter um diagnóstico preciso em cerca de 30 dias. O
objetivo, então, é criar mecanismos para dialogar com o poder público sobre
impactos que a reforma tributária poderá trazer à economia estadual, além de
tentar sensibilizar a classe política para adequações ao texto.
O texto-base da reforma tributária foi aprovado em duas
votações no último dia 8 no Senado, com 53 votos favoráveis e 24 contrários. A
matéria volta agora para a Câmara dos Deputados, onde se espera conclusão da
votação até o fim deste ano.
Reforma deve vir não só para simplificar, mas também para
reduzir, diz presidente da Fiep.
Apesar de pouco se saber sobre os efeitos práticos para
determinados segmentos da economia, o presidente da Fiep avalia que, com a
reforma tributária, a União vai deixar de olhar o parque fabril e passar a
olhar o consumo. “O Estado olha e apoia uma reforma observando a matriz de
tributação, neste caso voltada para o consumo. Paraná e São Paulo têm um
consumo maior, ao contrário de Santa Catarina (que tem consumo menor, se
comparado ao que produz). Então a visão dos estados é uma e dos segmentos,
setor a setor, é outra”, destacou.
Para Vasconcelos, se ao Fisco não importará mais onde está
sendo fabricado o produto, mas sim onde ele será comprado e consumido, “é
preciso ter capital pujante, indústrias com maior competitividade que tragam
capital de fora, distribuam renda e o aumento da renda per capita vai estimular
o consumo”.
Para ele, se a arrecadação não deve cair, alguém vai pagar
mais e outros podem pagar menos. "Por isso queremos observar, setor a
setor, como isso vai refletir na economia da indústria paranaense”, seguiu. O
presidente da Fiep se diz preocupado com o tema porque uma “reforma tributária
deveria vir não só para simplificar, mas também para reduzir” a carga
tributária, as alíquotas, atacando a chamada curva de Laffer. “Quanto mais
adequado o tributo, mais pessoas pagam e isso gera uma melhor competitividade.
Estamos assustados porque não temos um olhar setor por setor e não temos uma
percepção de redução da alíquota”, constatou.
Exportação de alimentos pode ter impactos negativos com a
reforma tributária
Apesar de favorável às exportações, a reforma pode trazer
impactos negativos à bilionária indústria exportadora de alimentos do Paraná. O
estado é um dos maiores produtores de proteína animal do Brasil, com vendas a
mais de 180 países.
Porém, lembra Vasconcelos, importante parcela dessas
indústrias está no processo cooperativista, que já tinha um regime tributário
diferenciado. “(O segmento) entrou numa alíquota diferenciada, parece-me que
não haverá prejuízo, talvez pela questão dos créditos de exportação, mas é
muito incipiente a tese com a realidade”, alertou.
Segundo o presidente da Fiep, esclarecimentos ainda são
essenciais porque não se sabe, por exemplo, como será o esquema de tributação
às indústrias que contam com uma escala elevada de serviços no seu processo de
fabricação. “Para nós da Fiep é importante ter uma posição do Paraná, esse
olhar setor a setor para contribuir na hora de questionar a alíquota. O grande
problema da reforma é a alíquota”, disse.
Outra preocupação diz respeito às perdas de benefícios e
incentivos estaduais que serão afetados pela Proposta de Emenda à Constituição
(PEC), diante de indústrias que adequaram seus parques com base nas vantagens
que estavam valendo. “A indústria precisa ser desonerada, ainda mais em um país
rico e vocacionado. É fundamental trazer recursos de fora para distribuir
renda. O consumo é um reflexo da capacidade da indústria na geração de emprego
e renda”, reforçou, ao defender uma carga tributária ao setor mais equilibrada.
Entre os exemplos para o fortalecimento do setor, Vasconcelos
lembrou que os Estados Unidos fizeram um esforço, há algumas décadas, para que
seu parque fabril fosse para fora do país. “Viram que foi um equívoco e hoje
estão tentando trazê-lo de volta (...) Precisamos de ambientes de negócios e
indústrias mais competitivas. Esse levantamento vai contribuir muito nessa
construção de percepção e para que possamos trabalhar esses temas com os
diferentes atores, termos indústrias mais fortes no estado e no Brasil”,
concluiu.
Fonte: Gazeta do Povo/ Foto: Gelson
Bampi/Sistema Fiep
