Publicado em: 05/12/2023
O IBGE divulga na manhã desta terça-feira (5) os dados das
Contas Nacionais que devem comprovar a estagnação da atividade econômica no
terceiro trimestre de 2023 em comparação ao segundo trimestre. Os economistas e
os departamentos de análises de grandes bancos projetam uma retração entre
-0,2% e -0,5 para o PIB do 3º trimestre, na margem. A perda de força da
atividade agrícola e os serviços cambaleantes no período explicam o
comportamento.
Mesmo assim, os dados devem mostrar uma economia ainda com
alta entre 1,7% e 1,9% ante o mesmo período de 2022.
A previsão de Andrea Damico, economista chefe da Armor
Capital, é similar. Ela tem uma expectativa de -0,3% no trimestre contra
trimestre, mas uma alta de 1,7 na comparação interanual. Ela lembra que essa
estimativa foi piorando com o passar dos meses, uma vez que a Armor trabalhava
com queda trimestral de -0,1%, mas os dados de atividade de varejo, serviços e
indústria surpreenderam majoritariamente para baixo no período.
A economista projeta que uma desaceleração de serviços devem
mostrar estabilidade, enquanto a indústria terá um “respiro”, crescendo 0,5%.
“O que mais vai contribuir para a queda (do PIB) é exatamente a agropecuária,
que deve devolver uma parte da alta do primeiro trimestre”, disse.
Andrea também projeta que os investimentos devem vir
praticamente estáveis e que o consumo do governo deve ter acelerado no
trimestre, além de uma contribuição positiva do setor externo.
A Armor Capital também está esperando que a revisão dos dados
anteriores do PIB, que também serão divulgadas nesta terça-feira, devem levar
a algum tipo de calibragem das projeções
para o ano, por enquanto mantidas em 3,1% em 2023 e 1,9 em 2024.
Para a XP, a estimativa é de queda de 0,2% no PIB do 3º
trimestre, “refletindo principalmente a dissipação do choque positivo da
agricultura e a desaceleração da demanda doméstica do período”. Na comparação
com o 3º trimestre do ano passado, a estimativa é de um crescimento de 1,8%.
Em relatório, foi comentado que, após forte expansão na
primeira metade do ano, o PIB parece ter perdido fôlego nos últimos meses.
“Prevemos crescimento de 2,8% em 2023 e 1,5% em 2024.”
Para a Genial Investimentos, o cenário é de perda de
dinamismo da economia brasileira a partir do segundo semestre do ano, em função
da política monetária ainda restritiva e do cenário de elevada incerteza em
torno do desempenho da economia nos próximos meses, sobretudo devido ao levado
risco fiscal
A projeção do Itaú BBA é que o PIB do 3º tri tenha recuado
0,2% na margem, com ajuste sazonal. Na comparação anual, a expectativa é de um
avanço de 1,9%. O banco diz que um dos destaques será a confirmação da
desaceleração do setor de serviços, que via mostrar uma alta anual de 1,3%, bem
abaixo dos 2,3% divulgados no 2º trimestre.
O PIB agropecuário também deve desacelerar, passando para um
crescimento anual de 9,4%, ante uma alta que alcançou 17,0% no trimestre
anterior. “Por fim, esperamos avanço interanual de 1,8% na indústria, ante 1,5%
entre os meses de abril a junho”, segundo a análise do banco.
Segundo no setor de serviços, a categoria de “outros
serviços”, que inclui os serviços prestados às famílias, deve mostrar avanço de
1,5% na comparação anualizada, ante uma alta de 2,4% no 2º trimestre,
“mostrando ainda alguma resiliência, diante do mercado de trabalho que
continuou aquecido”.
Já para o comércio, a projeção é de quase estabilidade (-0,1%
na métrica anual), resultado bem similar ao verificado nos meses de abril a
junho. “Vale destacar o componente ‘serviços de transportes’, que registrou
forte alta no primeiro trimestre, beneficiado pelo desempenho forte do
agronegócio, mas que deve perder força ao longo dos últimos meses do ano”, diz
o relatório do Itaú.
A perda de força do PIB da agropecuária será fruto,
principalmente, da menor importância da safra de soja na contabilização do
resultado do setor no segundo semestre do ano.
Para o PIB industrial, a estimativa é de alta de 1,8% na
comparação anual, ante um crescimento de 1,5% no segundo trimestre, puxado pelo
setor extrativo, que tem uma projeção de alta de 7,8%.
O destaque negativo será a indústria de transformação, “que
deve recuar 0,7%, diante da demanda fraca e dos altos níveis de estoques, e
para a construção, em meio à queda da produção dos insumos típicos e a
desaceleração da massa salarial no setor”.
Do lado da demanda agregada, o Itaú ainda vêm dados fortes no
consumo das famílias e nas exportações. “Quanto ao primeiro, estimamos alta de
2,6% em comparação ao mesmo período do ano passado. A resiliência do mercado de
trabalho tem sustentado principalmente o gasto das famílias em serviços”,
explicou o banco.
Para a parte das exportações, a estimativa de crescimento
anual de 10% feita pelo Itaú sofreu influência das safras do período, como
também do forte desempenho da indústria extrativa de petróleo. A formação bruta
de capital fixo, por outro lado, deve continuar registrando queda anual, diante
do recuo tanto da produção interna de bens de capital quanto das importações.
Para o Santander Brasil, a contração esperada é de 0,4% no
PIB do terceiro trimestre, uma revisão para baixo dos 0,3% de queda previstos
antes. “Se nossa projeção estiver correta, isso implicaria no primeiro
resultado negativo nas variações trimestrais desde o 2º trimestre de 2021”.
Recentemente, o FGV/Ibre antecipou em seu Monitor do PIB que
o consumo das famílias deve apresentar sua nona variação positiva consecutiva
no terceiro trimestre (a projeção é de 2,5%, embora em menor ritmo ante os
trimestre anteriores. O relatório diz que isso demonstra a grande resiliência
deste componente, apesar do ambiente de juros elevados e do alto grau de
endividamento das famílias.
Para André Nunes de Nunes, economista chefe da Sicredi, é
esperada uma leve retração no PIB do trimestre, de -0,1%. “Pelo lado da oferta, vai pesar uma
retração da Agropecuária (-1,7%) depois de um primeiro semestre muito forte. Já
pelo lado da demanda, esperamos uma queda dos investimentos de (-2,0%), muito
em função dos efeitos do ciclo restritivo de taxa de juros.”
Fonte: InfoMoney/ Foto: Getty Image
