Publicado em: 21/08/2023

No início de agosto, o governo do Paraná recebeu o projeto executivo do Moegão, que vai centralizar as descargas dos trens que chegam ao Porto de Paranaguá e tem investimento de R$ 592 milhões no sistema exclusivo de descarga ferroviária de grãos e farelos. Conectado aos 11 terminais que integram o Corredor Leste de Exportação, essa inovação vai possibilitar um ganho de 63% na capacidade de descarga.

O Moegão faz parte de uma grande mudança logística no Paraná, o que tem relação direta com o fortalecimento da indústria, melhoria da produção, geração de empregos e, assim, crescimento da economia do estado.

Como explica João Arthur Mohr, gerente de Assuntos Estratégicos da Fiep, o projeto trará benefícios para a economia, meio ambiente e também para questões sociais.

Inserido na transformação do transporte de cargas paranaense, que hoje é feito prioritariamente pelo modal rodoviário, o Moegão permitirá um “mix” com o ferroviário. “No Porto de Paranaguá, temos hoje um movimento de 80% das cargas de importação e de exportação feitas pelo modal rodoviário, enquanto apenas 20% usam o ferroviário. Isso acontece por deficiências que temos no segundo”, esclarece.

Transformação no transporte de cargas

Como exemplos da estrutura de transporte por ferrovias, que apresenta deficiências e restrições à evolução deste modal, estão as estradas de ferro construídas em 1885, inauguradas ainda por Dom Pedro II na Serra do Mar, e a que liga Ponta Grossa a Guarapuva, de 1920.

Na época dessas obras, a tecnologia existente permitia contornar as encostas com curvas muito fechadas e as rampas eram muito íngremes, o que faz a velocidade média do trem ser de apenas 15 km por hora nesses trechos. Com túneis e viadutos previstos nos novos projetos do Paraná, essa velocidade média vai chegar a 60 km/h, o que, aliado a outras melhorias operacionais, quadruplica a capacidade de cargas que serão transportadas até Paranaguá, beneficiando tanto a região central e oeste do Paraná, assim como a Malha Sul, que liga o Norte e Noroeste do Estado, como ressalta Mohr.

Atualmente, os trens chegam a Paranaguá e precisam de várias manobras para descarregar vagões em vários terminais diferentes, o que interfere no trânsito da cidade e acarreta muito mais tempo no processo. Atualmente, o trem não sai em menos de 48 horas vazio, pois espera uma fila de descarga, que é lenta.

O Moegão vem atrelado a uma “pêra ferroviária”, estrutura em formato circular (por isso o nome). Dessa forma, o trem irá trafegar sempre em marcha à frente, faz o círculo, descarrega quatro vagões simultaneamente até descarregar os 60 que fazem parte da composição. São três linhas em paralelo, ou seja, três composições com 60 vagões cada. Por sua vez, o material, soja, milho ou farelo, cai em uma caixa abaixo do vagão denominada moega e será distribuído para os armazéns por meio de elevadores de canecas e correias transportadoras.

Mais benefícios do Moegão

Essa estrutura permitirá que quintuplique o número de vagões recebidos em Paranaguá pelo modal ferroviário, especificamente no corredor de exportação. O vagão chega carregado e em poucas horas já sairá vazio.

É um projeto interessante para toda a logística do estado, que aliado à Nova Ferroeste, que liga o Paraná ao Mato Grosso do Sul, estendendo os trilhos do trecho Cascavel-Guarapuava até a cidade de Guaíra (PR), Novo Mundo (MS), chegando a Dourados e Maracaju, ainda com ramais à Foz do Iguaçu e Chapecó no também no estado vizinho de Santa Catarina. Esta melhoria se estende também à Malha Sul que transportas cargas do Norte e Noroeste do Paraná. O objetivo é transformar de 20% para mais de 50% as cargas transportadas pelo modal ferroviário, em condições competitivas trazendo redução dos custos logísticos, menor emissão de carbono e redução os acidentes nas rodovias

“De nada adiantaria nós termos um projeto da Nova Ferroeste e revitalização da Malha Sul se o Porto de Paranaguá não estiver preparado para receber esse crescente número de vagões previstos com essas duas grandes obras. Então, essas três linhas paralelas entre si permitirão o fluxo de vagões muito mais ágil, com descarga mais rápida e segura, além de menor interferência no fluxo da cidade”, explica João Arthur.

O gerente de Assuntos Estratégicos da Fiep elenca ainda mais pontos positivos:


  • Do ponto de vista ambiental, a carga por ferrovia emite cinco vezes menos carbono por tonelada transportada que por rodovia.
  • Social: retirando caminhões de longa distância, pode reduzir os números de acidentes em estradas. Os caminhoneiro continuam tendo importância, mas para viagens mais curtas, de maneira integrada. Assim, esses profissionais podem ficar mais próximos de casa e da família, com mais qualidade de vida.
  • Redução dos custos logísticos trazidos pelo modal ferroviário.


Influência para a exportação

No primeiro semestre de 2023, as exportações do Paraná tiveram o melhor resultado da história do estado. O projeto do Moegão e a ampla mudança na logística do estado, com novas ferrovias, vão contribuir para que esses números continuem em ascensão. Um dos motivos é pela redução custo do frete para importação e exportação, que influencia o chamado “Custo Brasil”, que as mudanças devem acarretar.

Além disso, a redução de acidentes e congestionamentos e a consequente otimização do tempo também são ganhos que tornam o estado mais competitivo para a cadeira global.


Fortalecimento da economia do Paraná

O Moegão vai gerar ganho de competitividade, em termos de redução do custo logístico e espera de vagões. Essa economia é transferida para a produção rural e industrial do segmento, uma vez que passa a ser mais viável fazer investimentos como compra de novas máquinas, desenvolvimento de novos produtos ou inovação em linha de produção, por exemplo.

“Tanto o produtor rural vai gastar menos para exportar a soja, o milho, quanto a indústria vai gastar menos para exportar o farelo de soja. Esses produtos são commodities internacionais, ou seja, o preço é determinado pela Bolsa de Valores de Chicago e o que sobra no bolso de quem produz, para que possa gerar mais emprego e renda na sua fazenda, e o industrial expandir a sua indústria, é o preço balizado pela Bolsa menos os seus custos. Ao se ter um custo menor, migrando o transporte da rodovia para a ferrovia, é possível girar melhor a cadeira produtiva da agroindústria”, reforça o gerente de Assuntos Estratégicos da Fiep.

Melhoria para o tráfego das cidades

Curitiba é a cidade com maior nível de acidentes em linhas férreas, segundo o relatório divulgado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT): foram 154 registros de 2018 até 2022. A segunda é Paranaguá, com 129 registros, que tem 16 passagens onde o trem e os veículos da cidade podem colidir.

Com o projeto do Moegão, como os trens deixam de precisar fazer várias manobras para deixar a mercadoria nos armazéns, as interferências caem para apenas cinco pontos. Assim, haverá mais fluidez e segurança no trânsito da cidade, o que melhora a qualidade de vida. Além disso, a Nova Ferroeste prevê a retirada do trem de dentro da cidade de Curitiba, implantando um contorno da região metropolitana de Curitiba, afastando trens de carga da região urbanizada, evitando-se assim acidentes graves que todo o ano acontecem neste trecho urbano

A Fiep participa das decisões e acompanha todos os temas de interesse da indústria paranaense, como as questões logísticas.

Fonte: g1

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