Publicado em: 06/06/2024
Rodovias consideradas importantes para o escoamento da produção agropecuária do Paraná devem começar a receber mudanças nas suas estruturas a partir de 2025. A promessa é das empresas privadas que arremataram os dois primeiros lotes de concessões no Estado. Alguns pontos já estão em obras de manutenção e de melhorias de segurança. Mas os contratos assinados com o poder público preveem a ampliação da capacidade de movimentação.
Com previsão de duplicar 70 quilômetros em trechos das rodovias BR-277 e BR-376, nos próximos três anos, a concessionária Via Araucária ressalta que o Paraná passa por um novo momento na logística. “Temos o papel de quebrar a imagem antiga relacionada à concessão de rodovias no Estado. Hoje temos um novo contrato, com um padrão mais exigente”, considera Pedro Veloso, diretor de Engenharia da empresa.
Em resposta ao setor produtivo, que vem cobrando a melhoria das condições das estradas e o cumprimento dos contratos, Veloso reforça que, já em 2025, parte das obras de duplicação deve estar em andamento. “A liberação do licenciamento ambiental junto ao IAT [Instituto Água e Terra] está avançada e, apesar de ser um grande desafio, nossa meta é cumprir o prazo”, afirma.
Somente na BR-277 estão previstos em torno de 27 quilômetros de duplicação, com estimativa de conclusão para fevereiro de 2027. Serão obras em trechos da estrada nas regiões de Palmeira (10 quilômetros) e de Irati (17 quilômetros), regiões de produção agropecuária no Estado.
Nos primeiros sete anos, os investimentos devem chegar perto de R$ 10 bilhões, incluindo a execução das principais obras determinadas em contrato. “Será um ciclo de investimentos arrojado”, promete o diretor da concessionária.
Sob jurisdição da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o programa de concessão de trechos de rodovias lançado pelo governo do Paraná licitou até o momento dois lotes de seis lotes. A Via Araucária assumiu o Lote 1. O 2 ficou com a EPR Litoral Pioneiro. A gestão passou para as concessionárias em 28 de fevereiro deste ano.
O primeiro lote engloba 473 quilômetros ao longo da BR-277, BR-373, BR-376, BR-476, PR-418, PR-423 e PR-427. Engloba Curitiba, Região Metropolitana de Curitiba (RMC), Centro-Sul e Campos Gerais. O contrato de concessão prevê, no total, 344 quilômetros de duplicações, 215 de faixas adicionais, 32 quilômetros de vias marginais, 27 quilômetros de ciclovia e 63 viadutos e trincheiras.
Entre as principais obras, estão a duplicação total da BR-373, entre Ponta Grossa e Prudentópolis, a duplicação da BR-277 entre Balsa Nova e Prudentópolis e do Contorno Norte de Curitiba entre o trevo de Campo Largo e o acesso a Colombo, além da construção de faixas adicionais no Contorno Sul de Curitiba e obras na RMC.
A BR-277 deve receber também uma parada para descanso de caminhoneiros e de uma rampa de escape, nas proximidades da Serra de São Luiz do Purunã. Veloso destaca a importância da BR-277 como corredor de exportação de grãos e outras mercadorias, e como via de tráfego para o interior do Paraná. “É uma rodovia de extrema relevância, até pela conexão internacional, uma vez que a via segue até Foz do Iguaçu, na fronteira com Paraguai e Argentina”.
Gargalo
Um dos maiores gargalos na BR-277, no entanto, está no outro lote de rodovias concedido à iniciatva privada. É o trecho de Curitiba ao Porto de Paranaguá, no litoral. O trajeto preocupa o setor produtivo, que ainda tem na memória os transtornos causados por deslizamentos de encostas entre 2022 e 2023
Estradas interrompidas por longos períodos e atrasos no transporte das cargas para o porto, segundo ele, têm reflexo até hoje na logística para o agronegócio paranaense. O tráfego nos períodos do escoamento da safra de grãos chega a dobrar na região, ultrapassando a marca de 50 mil caminhões por mês.
O caminho da capital parananse até o terminal porttuário ficou sob responsabilidade da EPR Litoral Pioneiro. O diretor-presidente da EPR, Marcos Moreira, afirma que estão previstas obras para aumentar a fluidez e a segurança no trajeto.
Até fevereiro de 2025, quando o contrato de concessão completa um ano, será feita a requalificação da rodovia, a fim de trazê-la para uma condição de trafegabilidade positiva. Em um primeiro momento, o trajeto entre Curitiba e Paranaguá deve receber serviços de manutenção como roçada, limpeza e reposição de sinalização, além de tapa-buracos.
A empresa planeja também trabalhos de recapeamento e drenagem, e manutenção nas encostas, a fim de evitar deslizamentos. “São ações que freiam o desgaste de trechos que estavam sem cuidados. A rodovia passará a ter manutenção adequada e a receber investimentos”, resume.
Do segundo ao quinto ano, o foco será a recuperação da estrada, com pavimentação, instalação de guarda-corpos rodoviários, viadutos, novos traçados, ajustes e manutenção. E do terceiro ao sétimo ano, a ampliação da capacidade, com uma terceira faixa ao longo do segmento da Serra do Mar.
No contrato de concessão como um todo, estão previstos 350 quilômetros de duplicação, além da implantação de terceiras faixas. Serão aplicados nas estradas recursos na ordem de R$ 8 bilhões. Segundo a empresa, as obras devem começar na região de Jacarezinho, no Norte Pionero Parananse.
O plano é entregar as melhorias ao final do terceiro ano de concessão, em 2027. A concessionária pontua apenas que o início dos trabalhos depende de fatores como a aprovação de projetos e de licenças ambientais, por exemplo.
Juntas Via Araucária e EPR Litoral Pioneiro devem realizar obras de melhorias que somam mais de R$ 30 bilhões ao longo dos próximos 30 anos. Também deverão prestar serviços de manutenção e atendimento aos usuários em mais de mil quilômetros de rodovias que compõem os dois trechos.
O que é o Caminhos da Safra
Realizado por Globo Rural, o projeto Caminhos da Safra é uma série que virou referência na cobertura de logística para o agronegócio. Somando todas as edições, as equipes de reportagem já percorreram mais de 100 mil quilômetros em todas as regiões do Brasil.
No Paraná, a equipe rodou mais quase 1,2 mil quilômetros, "cortando" o Estado do oeste ao litoral, entre os dias 24 a 28 de maio. A reportagem passou pelas principais rodovias utilizadas para escoamento da safra, entre elas a BR-277, BR-373, BR-467, BR-376 e PR-151.
A viagem começouem Ponta Grossa, passando por Guarapuava - na região Centro-Sul -, Cascavel e Toledo - no Oeste -, Carambeí e retorno a Ponta Grossa - nos Campos Gerais - e terminou no Porto de Paranaguá. Entre Toledo e Paranaguá, a maior distância do itinerário, são 600 quilômetros de estrada.
Entre Ponta Grossa e Guarapuava, na BR-373, a pista simples é um desafio aos motoristas, tendo em vista que o trecho concentra movimento de caminhões das regiões Oeste e Sudoeste do Estado.
Fonte: Globo Rural