Publicado em: 20/09/2023
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central se
reúne nesta quarta-feira (20) para discutir a taxa básica de juros, hoje em
13,25% ao ano. O mercado aposta que o BC deve manter o ritmo atual e anunciar
um novo corte de 0,5 ponto percentual, levando a Selic a 12,75% — o menor
patamar desde maio de 2022 (11,75%).
Por que aposta é de
corte de 0,5 ponto
Inflação dá sinais positivos, mas futuro
ainda preocupa. Embora o IPCA tenha surpreendido no
último mês, a
expectativa do mercado é de que a inflação termine o ano em 4,86%, segundo o
último Boletim Focus. O índice está acima da meta para 2023, que é de 3,25%
(com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo).
Há dúvidas se o governo vai conseguir cumprir a meta de
déficit zero em 2024. Especialistas veem o andamento do arcabouço fiscal e da
reforma tributária como ponto favorável ao corte nos juros, mas ainda
questionam a capacidade do governo de diminuir os gastos e aumentar a
arrecadação. Segundo Thaís Zara, economista sênior da LCA Consultores, as despesas previstas
para 2024 estão "subestimadas".
Alta do petróleo no exterior pressiona combustíveis no
Brasil. Os recentes dados econômicos da China e as expectativas de restrição da
oferta global de petróleo fizeram o preço do
barril disparar no mercado internacional. Essa alta pode levar a um aumento dos combustíveis no
Brasil, o que impactaria a inflação nos próximos meses. Isso também desencoraja
cortes mais agressivos nos juros, segundo analistas.
Houve avanços em
aspectos importantes, como a inflação de serviços. Mas acreditamos que essa
melhora já estava incorporada ao cenário do BC. Neste sentido, esperamos
manutenção do ritmo de cortes em 0,5 ponto até pelo menos o início do próximo
ano.
Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset
Apesar da melhora na
inflação de serviços, parece cedo para dizer que ela é mais benigna do que a
esperada. Além disso, ainda há risco de não cumprimento das metas fiscais para
2024. O ritmo atual [de cortes] deve prevalecer nesta e nas próximas reuniões.
Thaís Zara, economista sênior da LCA Consultores
Outra preocupação que
os membros do Copom podem levar em consideração são os dados recentes da China,
que pressionam as commodities, como o petróleo. Isso pode refletir em uma alta
do preço dos combustíveis no Brasil.
Bruna Centeno, sócia e economista da Blue3 Investimentos
O que disse o BC e o
que vem à frente
Em agosto, BC sinalizou perspectiva de novo corte de 0,5
ponto. Na última reunião, quando anunciou a redução da Selic para 13,25% ao
ano, o Copom antecipou que os próximos reajustes devem vir "na mesma
magnitude". "A decisão desta quarta já está precificada pelo
mercado", diz Ana Paula Carvalho, sócia da AVG Capital.
Melhora no quadro inflacionário motivou início do corte nos
juros. A desaceleração dos preços, segundo o Copom, permitiu "acumular a
confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização
monetária". O BC também citou a possível desaceleração da economia nos
próximos trimestres.
Decisão deve ser unânime, diferentemente da última reunião.
Em agosto, a decisão pelo primeiro corte de 0,5 ponto nos juros venceu por um
placar apertado, com cinco votos favoráveis — incluindo o de Roberto Campos
Neto, presidente do BC — e quatro contrários. Desta vez, a nova redução deve
ser unânime, segundo projeta a XP.
Selic deve encerrar 2023 em 11,75%, segundo projeções. O
mercado discute agora as chances de o BC acelerar a redução dos juros nas
próximas reuniões e quando será o fim do ciclo de cortes, que tende a coincidir
com o chamado juro neutro. É o patamar em que a economia cresce com seu maior
potencial, com a inflação sob controle.
Os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma
magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para
manter a política monetária contracionista necessária para o processo
desinflacionário.
Copom, em comunicado
divulgado em 2 de agosto
Não vejo um motivo para
acontecer uma decisão diferente disso [corte de 0,5 ponto]. O BC está olhando
de perto as novas incertezas fiscais em torno da capacidade do governo entregar
a meta fiscal do próximo ano e as projeções de inflação para 2024 e 2025.
Ana Paula Carvalho, sócia da AVG Capital
O cenário externo
trouxe mais incertezas, com a recente alta do petróleo e a expectativa de juros
maiores por mais tempo nos Estados Unidos. Por isso, um aumento no ritmo dos
cortes para 0,75 ponto ficou mais improvável no curto prazo.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter
Com juros em queda, o
que muda?
Juros menores barateiam o crédito, favorecendo o consumo. Um
corte na Selic, ainda que pequeno, tem reflexo nas taxas
cobradas por bancos e lojas, o que ajuda a impulsionar o consumo das famílias. Esse efeito não é
imediato, e os impactos mais relevantes serão sentidos pela população ao longo
do tempo.
Com mais crédito, famílias têm alívio no orçamento. A Selic é
chamada de taxa "básica" justamente porque serve como referência para
outros juros do mercado, como os cobrados em empréstimos e financiamentos. Ou
seja: quem vai financiar um carro ou um imóvel, por exemplo, pode ter um
"respiro".
Corte nos juros pode estimular a geração de empregos. Quando
os juros estão altos, o custo de operação de uma empresa também é maior, o que
desestimula investimentos e contratações. À medida que a Selic cai, empresários
ficam mais dispostos a tomar riscos para crescer e, consequentemente, gerar
empregos.
A longo prazo, juros menores diminuem gastos do governo com a
dívida pública. Segundo indicadores do próprio Banco Central, cada 1% da Selic
representa um acréscimo de quase R$ 36 bilhões para a dívida pública do Brasil.
Investimentos de risco, como ações, tendem a ser mais
buscados. No longo prazo, a contínua redução dos juros torna menos atrativos os
investimentos em renda fixa, como títulos do Tesouro, CDB e LCI.
Isso pode gerar uma migração para ativos mais arriscados, como ações e renda variável.
Fonte: Economia UOL/ Foto: Getty Images/ iStockphoto
