Publicado em: 24/01/2022
Além
dos problemas operacionais e de demanda causados pela pandemia o setor de
transporte rodoviário de carga (TRC) está tendo que enfrentar uma alta
generalizada dos preços dos insumos utilizados.
Seguindo a sistemática de apuração de índices que indicam o impacto da variação dos preços dos insumos do serviço de transporte rodoviário de cargas, o DECOPE/NTC registrou no ano de 2021 (e nos últimos 12 meses) uma inflação média para os serviços de transporte de cargas fracionadas de 18,0%.
É
importante observar que este percentual se refere apenas a inflação, não
reflete a defasagem do frete que ainda persiste e se agravou durante a Pandemia
em 2020 (vide INCTF acumulado em 24 meses, de 16,14%), afetando duramente as
margens e a capacidade de manter seus compromissos e investimentos.
O desafio para o Transporte Rodoviário de
Carga (TRC) foi um pouco diferente dos demais, pois, assim como os setores de
saúde, segurança pública e alimentício, ele também não pôde parar. E, teve que
continuar trabalhando com 40% a menos de carga, tendo que enfrentar
dificuldades do tipo:
Pagamento dos Custos Fixos, cumprimento de
prazos, o custo do retorno vazio, descompasso no fluxo de caixa, aumento da
inadimplência, o esgotamento da capacidade dos terminais entre outras.
O estudo da CTF indicou que mais de 90% das
empresas de carga fracionada foram afetadas negativamente pela crise. E, mesmo
com as dificuldades que o setor de transporte rodoviário de cargas passou, ele
não deixou de abastecer os hospitais, farmácias, postos de combustíveis,
indústrias (alimentícias, farmacêuticas, de higiene e limpeza, entre outras),
supermercados, lojas de peças, escoando a safra recorde, além de atender todo o
mercado de e-commerce. Contudo, este esforço todo deixará sequelas para o
setor, uma delas é o aumento da defasagem do frete e a diminuição da capacidade
de investimento das empresas do setor.
Custos do TRC
Os
custos da atividade de TRC estão concentrados em três insumos: combustível, mão
de obra e veículo (caminhões e seus implementos), eles representam 90% dos
custos operacionais e algo entre 60% a 80% do faturamento de uma empresa de
transporte de carga.
Combustível – Diesel variou 17,3%, e permanece
com viés de alta
O
diesel mesmo terminando o ano abaixo do valor de 2019 teve uma escalada no
segundo semestre forte, com um aumento de 17,3% e encerrou o ano indicando com
viés de alta para 2021.
Veículos e Implementos – aumentos entre 14% e
40%
Os
preços dos veículos de carga e seus implementos tiveram aumentos significativos
ao longo do ano. A variação média dos preços dos caminhões beira os 14%, mas
alguns modelos alcançaram índices próximos a 40%. Com o agravante do prazo
médio de entrega ser de 4 meses (alguns modelos é a espera chega a ser de 6
meses).
Pneus e Manutenção – reajuste entre 30% e 40%
Os
pneus, junto com as demais peças e mão de obra de manutenção, também tiveram
aumento na casa dos 30 a 40%. E, o mais grave é a falta de produto, já há
veículos e implementos que não estão rodando por falta de pneus e peças.
Aluguéis – base IGPM 21,97%
Aluguéis
representam um valor significativo dos custos de transporte, em especial nas
empresas de transporte de cargas fracionadas e, o IGPM que é o principal índice
de correção dos contratos encerrou o ano em 21,97% pressionando mais ainda os
custos e o frete.
Mão de obra – INPC acumulado em 12 meses 5,44%
Como
consequência da crise causada pelo Coronavírus, houve dissídio salarial apenas
em algumas regiões do país em 2020. É certo que deverá haver, a partir de maio
de 2021, pressão sobre a recomposição do poder de compra dos salários – o INPC
dos últimos 12 meses já aponta para 5,44%, o maior dos últimos anos.
Por outro lado, a súbita melhora da economia
no segundo semestre trouxe de volta o problema da falta de motoristas e as
empresas estão tendo que oferecer valores maiores para não ficar com veículos
parados, situação que também está ocorrendo na contratação de terceiros.
É cada vez mais comum ouvir relatos de
transportador com dificuldade de encontrar e contratar caminhoneiros seja na
condição de spot ou agregado, mesmo com a oferta de valores maiores. Situação
que também pressiona o custo do serviço de transporte.
A falta de mão de obra de motoristas e
autônomos preocupa e dificulta muito o atendimento atual e futuro de demandas
por transporte. É bom lembrar que todas as vezes que este problema tendia a se
tornar crítico, houve uma crise para amenizá-lo e, agora estamos saindo de uma
crise já sofrendo com a falta de mão de obra.
CONCLUSÃO
A
inflação anual do setor de transporte de carga fracionada, em 2020, calculada
pela variação do INCT-F foi de 9,43% – dada a alta dos insumos citados.
Para os casos onde não houve nenhuma
recomposição em 2020, por conta da pandemia, a defasagem representada pelo
INCT-F acumulado em 24 meses é de 16,15%.
É recomendável que o transportador e seus
contratantes negociem o repasse da inflação do período e das defasagens
anteriores, a fim de manter o equilíbrio de seus contratos e a manutenção da
qualidade e a garantia dos serviços de transporte de forma sustentável.
FONTE:
FETCESP