Publicado em: 15/10/2024

O “novo normal” da China é explicado, em parte, pela desaceleração do crescimento, pelo maior protagonismo do consumo interno e por uma economia mais equilibrada e focada em inovação. Esse é o resumo da palestra ministrada, nesta segunda-feira (14), por Jeongwen Chiang, professor da CEIBS (China Europe Internacional School), escola de negócios onde acontecem as palestras da Missão Internacional do Sistema Transporte ao país asiático.

Aos empresários e executivos que estão em Xangai para uma jornada de inovação, Chiang apontou três motivos que diferem a China atual daquele país que, há alguns anos, vivenciava um forte crescimento (PIB de 8,15% em 2021 contra 5,24% em 2024): 


Mercado:  de um rápido crescimento cheio de certezas passou para um crescimento lento com perspectivas incertas. 

Competição: pela oferta de produtos considerados bons, as marcas chinesas passaram a fazer frente às internacionais até então consideradas excelentes.

Desenvolvimento acelerado: com o apoio do governo, as empresas nacionais penetraram em mercados com tecnologias independentes, superando, até mesmo, concorrentes internacionais.

Segundo o professor, mesmo a despeito de outros desafios, como o envelhecimento da população e a desigualdade de renda, o país se mantém como uma terra de oportunidades.  

“Isso porque a escala de consumo continua a se expandir e as cadeias de suprimentos e infraestruturas do país não podem ser facilmente substituídas por outros países”, disse.

Chiang se refere, por exemplo, à competitividade do ambiente digital da China, que levou a Shein a superar gigantes como a Macy’s, a Amazon e o Walmart. Em cinco anos (2019 a 2024), a plataforma chinesa aumentou em 80,7% as vendas líquidas globais, chegando à cifra de US$ 1 bilhão.

De acordo com Chiang, esse e outros cases de sucesso se devem a pelo menos seis estratégias:


Consumidor final conectado diretamente à cadeia de suprimentos.

 Jornada do cliente como o ponto de partida.

Alcance personalizado, com permissão e proteção de privacidade.

Promoção da marca com cogeração de conteúdo por marcas e usuários.

Transformação digital garantida pelos fundamentos de resposta ágil: pessoas, processos e organizações digitais.

O case da Luckin Coffee, concorrente da Starbucks, também foi usado como exemplo. Atualmente, a maior rede de cafeteria da China conta com mais de 20 mil lojas em todo o país enquanto a americana tem apenas 7 mil. Isso se deve a táticas digitais como: 


Serviço 100% online – o pedido de cada cliente ser armazenado em banco de dados.

Operação baseada em dados – cada máquina de café estar conectada na nuvem.

Agilidade – cada pedido ser entregue em 30 minutos.

Com a população altamente conectada e sempre online, o comércio eletrônico da China é o maior do mundo. Para se ter ideia, o país responde pela maior taxa de penetração de pagamentos móveis (39,5%), à frente de países como Coreia do Sul (29,9%), Vietnã (29,1%), França (26,1%) e Reino Unido (20,3%).

“Na China, a internet tem cobertura para celular em qualquer lugar, inclusive em áreas remotas. E as pessoas a usam para tudo: acessar redes sociais, fazer busca e transações pelo celular, com pagamentos eletrônicos, inclusive de tributos. Para fazer tudo o que você precisa no dia, são necessários quatro aplicativos: Alipay (pagamento digital e outros),  Wechat (pagamento digital e chat),  Baidu (ferramenta de pesquisa) e Taobao (plataforma de mercado de varejo online B2C)”, finalizou.


ESG como estratégia de desenvolvimento sustentável

No período da tarde, a delegação brasileira assistiu a uma palestra ministrada pelo professor Shan Hong Yu, da CEIBS, que abordou o papel crescente da agenda ESG como força de mudança para empresas de todos os setores e tamanhos.

Aos participantes, ele mostrou que as práticas ambientais, sociais e de governança não contradizem o fator financeiro. De acordo com Shan, elas são, na verdade, fator chave para a criação de valor e para a resiliência das empresas. 


Segundo ele, muitas empresas chinesas fazem parte da cadeia de suprimentos da Europa, motivo pelo qual a sua apresentação teve como foco as questões do ESG nesse continente.

“Os dados sobre ESG não têm sentido sem a compreensão dos regulamentos. No caso da Europa, há três normas: a Taxonomia Financeira Sustentável, a SFDR e a CSRD”, disse.

 Taxonomia Financeira Sustentável: sistema de classificação para identificar quais atividades econômicas realizadas ou investidas podem ser ambientalmente sustentáveis, de nível verde.

Para ser classificada como compatível ou consistente, ela precisa:

1) contribuir de forma substancial para um ou mais objetivos ambientais, como mitigar mudanças climáticas e proteger ecossistemas saudáveis;

2) não causar dano significativo aos objetivos ambientais;

3) conhecer o mínimo de segurança social; e

4) atender aos critérios da seleção.


SFRD (Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis): focado no setor financeiro, ele trata dos requisitos de divulgação do ESG; do nível do produto de investimento; e da lavagem verde, ou seja, estratégia de marketing que visa dar às marcas uma falsa aparência de sustentabilidade sem aplicá-la na prática. 


CSRD (Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa): em vigor desde janeiro de 2023, é direcionada a grandes empresas privadas ou listadas na Europa. Desde o ano passado, elas precisam emitir um relatório de ESG junto a seu relatório financeiro.

Ao longo da palestra, Shan Hong Yu mostrou como integrar os princípios ESG às estratégias corporativas, tendo discorrido também sobre a forma eficaz de responder aos desafios e identificar as oportunidades do mercado.


A Missão Internacional da China, em Xangai, começou no dia 10 de outubro e segue até esta sexta-feira (18)

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Fonte: CNT

Delegação brasileira do transporte absorve conhecimento sobre a China digital e o ESG como estratégia de negócio