Publicado em: 22/07/2024

Em decisão conjunta ao Acordo de Paris, que é um tratado internacional sobre mudanças

climáticas, adotado em 2015, o Brasil se comprometeu a reduzir suas emissões de gases

de efeito estufa (GEE) em 50% até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2050. O

setor de Transporte Rodoviário de Cargas (TRC) no Brasil, reconhecendo a urgência da

questão climática e seu papel crucial na emissão de GEE, coloca entre suas principais

pautas a transição energética. Responsável por cerca de 20% das emissões totais do país,

de acordo com o Boletim Ambiental do Despoluir, Programa Ambiental do Transporte, da

Confederação Nacional do Transporte (CNT), o setor tem um papel fundamental no

cumprimento dessas metas.


Por meio de um esforço conjunto entre empresas, governo e entidades de pesquisa, o TRC

busca descarbonizar suas operações e contribuir para um futuro mais verde. Com foco em

um setor mais sustentável, o Sindicato das Empresas do Transporte Rodoviário de Cargas

de São Paulo e Região (Setcesp) vem se destacando na temática e possui uma Comissão

de Sustentabilidade que discute assuntos relevantes, realiza eventos e dissemina

informações para o setor.


De acordo com a coordenadora da Comissão de Sustentabilidade do Setcesp, Fernanda

Veneziani, a entidade possui uma série de iniciativas que visam a sustentabilidade. “A

Comissão de Sustentabilidade do Sindicato promove reuniões mensais sobre os mais

diversos temas envolvendo este universo. Além disso, a entidade organiza eventos como o

Encontro ESG e o Prêmio de Sustentabilidade, cujos objetivos são disseminar

conhecimento sobre práticas sustentáveis e novas tecnologias para incentivar as empresas

do setor às rotinas responsáveis”.


Para o vice-coordenador da Comissão de Sustentabilidade do Setcesp, Ricardo Melchiori, o

segmento de Transporte Rodoviário de Cargas vem fazendo sua parte. “Muitas empresas já

adotaram nas suas operações processos e equipamentos na sua frota própria que geram

menos impactos ao meio ambiente. Desde a otimização dos usos dos recursos, até os

programas de renovação de frota, com a adoção de veículos leves, com propulsão a

motores elétricos e os pesados, com uso de gás natural ou biometano e também a troca por

veículos mais novos, mesmo que movidos a diesel, porém com tecnologia mais moderna

que reduz a emissão de GEE”, explica.


Veneziani explica que o futuro do setor de transportes em relação à emissão de poluentes

aponta para uma redução significativa, não existindo apenas uma única solução eficiente,

mas diversas opções de acordo com cada ramo de atividade dentro do setor. Neste sentido,

a transição energética no TRC aparece como a solução para conciliar o desenvolvimento

econômico com a preservação ambiental.


Essa mudança envolve a adoção de tecnologias e combustíveis menos poluentes, como

biocombustíveis, veículos elétricos e veículos híbridos. “A transição energética é crucial

para a redução das emissões de gases de efeito estufa, pois, com a adoção de fontes de

energia mais limpas e renováveis pode-se mitigar as mudanças climáticas e reduzir as

emissões, promovendo o uso mais sustentável de recursos naturais e reduzindo a poluição

do ar, solo e água”, conta Veneziani.


Desafios


Entretanto, a implementação em larga escala da transição energética no TRC enfrenta

desafios como o alto custo inicial de tecnologias e combustíveis alternativos, em que a

viabilidade econômica da transição depende de políticas públicas de incentivo e da redução

dos custos.


Veneziani explica que o Brasil tem feito progressos notáveis rumo à transição energética,

esses esforços são significativos, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Além dos

obstáculos encontrados na adoção de biocombustíveis, a infraestrutura de recarga e

abastecimento ainda são insuficientes para que transportadoras e empresas logísticas

façam investimentos maiores em veículos híbridos e elétricos, principalmente em longas

distâncias.


Soluções


Para superar esses desafios e garantir o sucesso da transição energética, medidas

conjuntas são necessárias, como investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação,

incentivos fiscais e subsídios, campanhas de conscientização e treinamento.


Segundo Melchiori, uma das saídas para que a transição energética funcione de forma

plena é ampliar as discussões sobre a otimização das operações de transportes e o plano

de renovação da frota de transporte de carga do Brasil, não somente a das transportadoras

mas principalmente a dos autônomos. “A frota de caminhões em circulação no Brasil possui

3,80 milhões de unidades, com idade média de 21,7 anos. Apesar de um crescimento de

11,76% nos últimos cinco anos, a taxa de renovação vem caindo, o que significa que os

caminhões novos estão substituindo os mais antigos em um ritmo mais lento”, conta.


O vice-coordenador da comissão de sustentabilidade do Setcesp entende que é necessário

diminuir drasticamente os veículos de carga que circulam vazios, pois eles geram emissões,

mas não geram valor. Além disso, a renovação da frota precisa estar na pauta do governo

federal.


Com o compromisso do setor e as ações em curso, espera-se que a transição energética no

TRC acelere nos próximos anos. A expectativa é que aumente-se a participação dos

biocombustíveis na matriz energética com o uso de biocombustíveis de segunda geração e

avanços na produção de biometano que podem ampliar ainda mais a descarbonização do

setor. Outro ponto que o setor valoriza é o aumento da frota de veículos elétricos e híbridos

com expansão da infraestrutura de recarga que deve impulsionar a sua adoção.


Por fim, é fundamental que novas tecnologias surjam e tornem viáveis soluções inovadoras

como veículos movidos a hidrogênio e combustíveis sintéticos que podem contribuir para a

descarbonização do TRC. “O Brasil tem mostrado liderança em várias áreas da transição

energética, mas é necessário continuar avançando e enfrentar os desafios para garantir um

futuro sustentável e energeticamente eficiente”, finaliza Veneziani.

Descarbonização: Transição energética mantém-se aliada ao Transporte Rodoviário de Cargas