Publicado em: 18/01/2022
O ano começou diante de
um horizonte de algumas certezas, mas também de muitos desafios para a
indústria do transporte de carga. Para os atores do setor, no entanto, as
premissas de um lado e de outro tornam o que vem pela frente nebuloso.
Uma
das convicções já sobre a mesa é continuidade do crescimento do mercado de
caminhões. No ano passado, apesar de toda a dificuldade com os impactos da
pandemia e a falta de componentes, as demandas do agronegócio, construção,
mineração e e-commerce preservaram as vendas em alta.
O mercado encerrou o período com mais de
128,6 mil unidades negociadas, avanço de 43,5%. Ainda que o resultado tenha
sido beneficiado por uma base baixa de comparação, de ano atípico com o
desembarque da crise sanitária, foi o maior volume vendido desde 2014.
Anfavea aponta vendas de caminhões 9% maiores em 2022
Em sua primeira estimativa, apresentada
na primeira semana do ano, a Anfavea, associação que representa os fabricantes
de veículos no País, projeta mercado por volta de 140 mil caminhões que, se
realizado, anotará expansão perto de 9%.
“É muito difícil fazer previsões no
atual momento. Temos a certeza de uma retomada lenta em um cenário que irá se
manter com uma mistura de restrições na oferta e na demanda. A falta de insumos
deve perdurar, embora menos crítica e, apesar do avanço da vacinação, a
pandemia ainda se mostrará relevante na economia”, resumiu Luiz Carlos Moraes,
presidente da Anfavea.
Para a associação, os mesmos setores que
alavancaram as vendas de caminhões no ano passado seguem como protagonistas em
2022. A estimativa de mais um crescimento na produção de grãos na safra
2021/22, a continuidade na alta nos preços das commodities e na da expansão no
comércio eletrônico deverão manter aquecidas as vendas.
Veículos negociados em 2021 seguem com entregas nos próximos
meses
Depois, de acordo com balanço da
Fenabrave, a federação que reúne os distribuidores de veículos, as vendas de
caminhões se estabilizaram em patamar alto. “Há muitas unidades já
comercializadas que serão entregues ao longo dos próximos meses”, observou José
Maurício Andreta Júnior, presidente recém-eleito da entidade.
No mesmo cenário que se mostra
comprador, no entanto, também tem os fatores de preocupações. Não há consenso
na estimativa do PIB. A Anfavea construiu sua projeção baseada em crescimento
de 0,5%, mas não raro se encontra analistas que enxergam 0% ou mesmo queda. A
alta na taxa de juros sinaliza aumento no custo de financiamento — o CDC já
chega a 27% ao ano —, bem como a sombra da inflação e o desemprego recorde
reduzem o poder de compra. Soma-se ainda o câmbio volátil, em nível não menos
de R$ 5,50, encarecendo a cadeia produtiva.
Esforços na redução de custos deverão
ser prioritários o transporte de carga em 2022. Tanto o veículo quanto a
operação ficaram mais caros no ano passado e não há, ao menos no curto prazo,
sinais de mudanças. Somente para a indústria, por exemplo, o aço ficou 70% mais
caro, em média. Na ponta, de acordo com levantamento mensal da
NTC&Logística, associação que representa transportadores, em 12 meses a
partir de novembro do ano passado, o preço do cavalo-mecânico sofreu elevação
por volta de 30%.
Abastecer o caminhão ficou 50% mais caro
Colocar o veículo para rodar também
deixou a conta mais alta. O diesel sofreu altas consecutivas desde abril do ano
passado. Conforme relatório do Departamento de Custos Operacionais e Pesquisas
Técnicas e Econômicas (Decope) da NTC, o combustível do tipo S-10 registrou
aumento de 50,72% no acumulado de 12 meses até novembro de 2021. Dessa maneira,
o preço médio encontrado nas bombas do País foi de R$ 5,447.
Cabe ainda lembrar que o ano antecipa a
mudança de fase das normas ambientais do Proconve, o programa de controle de
poluição veicular. A partir de janeiro de 2023, todos os caminhões deverão sair
de fábrica adequados à nova legislação do P8, equivalentes às do Euro 6. Para
isso, os veículos estarão embarcados com tecnologias mais avançadas que, no fim
das contas, encarece o produto.
Incertezas provocadas pela falta de componentes e pelas eleições
A evolução na regulamentação ambiental,
como em anos anteriores, deverá gerar antecipação de compras, afinal, os
caminhões da geração atual certamente têm preços menores em relação aos que
virão. Mas é preciso considerar que o desabastecimento de insumos se coloca
como uma condição que reduz a oferta na ponta.
“A rigor teremos alguma antecipação. Mas
vai depender do nível de abastecimento de insumos e componentes nas linhas de
produção a partir do segundo semestre. Hoje, por enquanto, a programação
consegue atender somente a demanda de agora”, avaliou Marco Saltini,
vice-presidente da Anfavea para o segmento de veículos pesados.
Não bastassem tantos fatores que motivam hesitações, será um ano de embates políticos devido às eleições. “Nossos estudos apontam para o crescimento nos segmentos automotivos. Mas, situações conjunturais podem afetar as estimativas, considerando que a indústria ainda sofre com a falta de insumos e componentes eletrônicos, que estamos diante de uma economia turbulenta e iniciando um ano de eleições, que costumam criar um cenário de incertezas”, resumiu o presidente da Fenabrave.
Fonte: Mobilidade - Estadão