Publicado em: 14/08/2025

A verdadeira vantagem competitiva diante da inteligência artificial está no que é exclusivamente humano: imaginação, pensamento crítico e humor. Esse foi o ponto central da palestra “Os impactos da transformação digital e da IA generativa na cultura organizacional e na experiência de colaboradores e clientes”, ministrada por Paula Marques, diretora de Business Transformation na Nova SBE Executive Education. O evento ocorreu nesta quarta-feira (13), em São Paulo, durante o segundo dia do SEST SENAT Summit.

Segundo a palestrante, a tecnologia sempre transformou a humanidade – e foi, ao mesmo tempo, moldada por ela – desde a invenção da roda até a chegada da inteligência artificial. O desafio agora é compreender como essas ferramentas redefinem nossa identidade e a forma como trabalhamos.

Paula lembrou que, no passado, as organizações eram estruturadas em rígidas hierarquias, nas quais o conhecimento e as decisões ficavam concentrados no topo. A transformação digital, porém, horizontalizou o acesso à informação, descentralizou a tomada de decisões e abriu espaço para a diversidade de pensamento e para a segurança psicológica. “Hoje não temos medo de dizer que não entendemos ou de compartilhar erros, e isso acelera inovação e aprendizado”, afirmou.

Ela também destacou a mudança na forma de encarar o trabalho: antes, o cargo definia a pessoa; agora, o que importa é seu portfólio de habilidades. Empresas como a Delta Airlines e o porto italiano de Gioia Tauro já mapeiam competências para aproveitar melhor os talentos e organizar o trabalho com mais eficiência. Para Paula, líderes devem deixar de focar apenas em corrigir fraquezas e passar a ampliar os pontos fortes e as paixões de seus times.

A palestrante alertou que nem tudo deve ser automatizado. Muitas soluções digitais fracassam por tentar substituir processos que exigem presença humana. Nesse sentido, apontou que a imaginação – a capacidade de criar futuros possíveis –, o pensamento crítico, que ajuda a decidir o que automatizar, e o humor, que acelera o aprendizado e humaniza relações, são ativos essenciais na era da IA. “Não se trata de competir com as máquinas no que elas já fazem melhor, mas de usar a tecnologia para ampliar o que nos torna únicos”, concluiu.

Casos de sucesso no transporte

“Como grandes empresas do transporte estão avançando na transformação digital e no uso da IA nos seus negócios” foi o tema de um painel que reuniu, também no segundo dia do evento, quatro líderes do setor para apresentar experiências de inovação. Mediado pela diretora executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart, o debate mostrou soluções que podem inspirar outras empresas.

“Aprendemos muito com o que vemos fora do Brasil, mas aqui temos muito a aprender com o que se faz no nosso país. Por isso convidamos empresários para dividir conosco essas experiências de sucesso em transformação digital”, destacou Nicole na abertura.

O CEO do Grupo JSL, Ramon Alcaraz, apresentou o “JSL Digital”, plataforma voltada para aumentar eficiência, conectividade e visibilidade na cadeia logística. Usando inteligência artificial, a solução otimiza desde a contratação e rastreamento até a comprovação de entrega e pagamento, reduzindo deslocamentos ociosos. O projeto, em fase de implementação, será expandido para operações de empresas adquiridas pela JSL. “O que queremos oferecer ao mercado é eficiência operacional, com redução de custos, escalabilidade, visibilidade em tempo real e inteligência de dados. Entendemos que a digitalização vai ser o grande salto para o futuro, e o nosso projeto é um passo para isso”, afirmou.

Alexei Korb, CTIO do Grupo Unidas, apresentou o “Iris”, programa de transformação digital criado em 2022, após a fusão entre Ouro Verde e Unidas. Composto por 14 projetos para substituir, eliminar ou integrar sistemas, o programa deve concluir as duas últimas iniciativas ainda este ano. “Estamos criando o futuro da companhia, preparando para inovação e adaptação ágil aos novos tempos do mercado. A transformação digital é uma transformação de negócios e cultural, pois mexe com toda a forma de pensar da companhia”, disse Korb.

Representando o Mercado Livre, Frederico Rezeck, diretor sênior de Transporte, explicou como é operar logística em uma empresa “nascida digital”. O modelo combina dados e IA para promover melhorias contínuas e fortalecer a cultura de inovação, com equipes multidisciplinares que integram tecnologia, produto, transporte regional e operações. A companhia trabalha com roadmaps anuais e sprints trimestrais para manter a agilidade. “Operar a logística em uma empresa nascida digital significa ter processos, sistemas e culturas diferentes de empresas que migram para o digital. A gente encara a tecnologia não como ferramenta, mas como um motor que impulsiona nossa companhia”, afirmou.

Por fim, o CEO do Grupo JCA, Gustavo Rodrigues, apresentou o uso de inteligência artificial no apoio à precificação em contexto de tarifa desregulamentada. Batizado de “Wilson”, inspirado na bola de vôlei do filme Náufrago, o algoritmo começou a ser desenvolvido em 2019 e já mostra resultados: no primeiro semestre de 2025, as rotas precificadas exclusivamente pela IA tiveram desempenho 20% superior às definidas com intervenção humana. “Passamos por uma jornada de dois anos aprendendo, compartilhando nossas dúvidas e avanços. Se nós tivéssemos trazido apenas a tecnologia, os resultados não seriam os mesmos”, ressaltou. 


Fonte: CNT 

SEST SENAT Summit: na era da inteligência artificial, o diferencial está no que é humano