Publicado em: 23/07/2025
O investimento em rodovias cresceu no interesse dos investidores e é, atualmente, a principal intenção para destino de aportes no setor de infraestrutura, segundo o Barômetro da Infraestrutura, levantamento semestral da EY-Parthenon, braço de estratégia e transações da EY, em parceria com a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB).
A pesquisa aponta que o crescimento das intenções de investimento em rodovias subiu de 35,4% para 46,6%, e ocupa agora a liderança entre os seis setores com maior potencial de investimento, após o saneamento básico ocupar a primeira colocação nas últimas sete edições.
Trata-se de um salto significativo após o segmento rodoviário figurar na terceira posição nos últimos três semestres. O sócio da EY-Parthenon para Governo e Infraestrutura, Gustavo Gusmão, destaca que Minas tem se beneficiado já há algum tempo devido aos investimentos contratados em novas concessões de rodovias federais e estaduais.
A perspectiva é que este panorama continue e o Estado seja um dos focos de investimento do setor nas estradas, acompanhado de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. “Olhando para frente, Minas Gerais ainda vai se beneficiar bastante, arriscaria a dizer que estaria entre os três estados que mais vão se beneficiar com concessões, se considerar tanto os projetos estaduais e federais, de forma agregada”, declarou Gusmão.
As razões para Minas ser um dos centros dos aportes atuais em rodovias e da intenção dos investidores, ressalta o sócio da EY, passa pelo fato do Estado possuir a maior malha rodoviária do País, além de ter demorado a adotar o modelo de concessão para suas rodovias, quando comparado com os estados de São Paulo e Paraná, por exemplo.
Este “atraso” deixou um grande estoque de ativos rodoviários em Minas Gerais para o setor de infraestrutura poder investir. “Como saiu atrasado e tem a maior malha rodoviária, esses dois fatores acabaram contribuindo para este momento muito bom para o Estado”, explica.
Já em relação às ferrovias, Minas Gerais não deve contar com a mesma sorte das rodovias. O investimento no setor ferroviário é alvo de 32,6% das intenções dos investidores em infraestrutura no País, segundo o Barômetro da EY, um crescimento em relação ao segundo semestre do ano passado, quando foi citado por 24,1% dos agentes do mercado.
Ainda assim, o sócio da EY-Parthenon ressalta que o investimento em novas concessões ferroviárias, que tem o governo federal como articulador central, tem sido muito mais pulverizado pelo País do que das concessões de rodovias, que podem ter os aportes direcionados também pelas gestões estaduais. “A visão do governo federal para Minas Gerais em ferrovias não vê Minas Gerais com protagonismo. Existem alguns projetos que trazem novos recursos para o governo e investimentos para a malha ferroviária, mas de forma mais pontual, não de expansão”, avalia.
Corte em agências reguladoras pode ser mais um desafio para investimentos em infraestrutura
Gusmão destaca que o crescimento do investimento em rodovias não vai redirecionar aportes em infraestrutura que antes seriam destinados ao setor de saneamento básico, já que os dois segmentos contam com players muito bem consolidados. O que pode inibir o apetite dos investidores, pontua, são fatores como o patamar elevado da taxa básica de juros (Selic) e a tributação das debêntures incentivadas.
Atualmente, a taxa de juros da economia está em 15% ao ano, o maior patamar desde julho de 2006, ainda durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Além disso, o governo federal sinalizou que pode trocar a isenção do Imposto de Renda para Pessoa Física (IRPF), na compra da debênture, para uma alíquota de 5% sobre os rendimentos a partir de 2026.
Outro ponto de atenção é a atuação das agências reguladoras, principalmente as federais, que têm sofrido cortes orçamentários nos contingenciamentos do governo federal para equilibrar as contas públicas. Metade dos entrevistados (50,5%) do Barômetro considera a atuação do governo federal nessa frente como péssima, enquanto 43,1% consideram regular. Apenas 5,8% das avaliações consideram a atuação positiva e 0,6% como ótima.
Gusmão pontua que as notícias dos contingenciados têm sido motivo de bastante preocupação entre os investidores, sobretudo em concessões que enfrentam algum tipo de “estresse”. “Essa percepção em cima de contratos vigentes, se contaminar o setor, pode contaminar novos leilões, com uma competição menor, o que significa também tarifas mais caras, outorgas menores. No final do dia, o serviço de infraestrutura fica mais caro”, analisa.
Fonte: Diário do Comércio
