Publicado em: 15/04/2025
O Brasil tem enfrentado sérios entraves logísticos que comprometem sua competitividade e elevam os custos do transporte de cargas. De acordo com o Acórdão 2000/2024, divulgado recentemente pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o país investe menos da metade em infraestrutura voltada ao transporte, em comparação a outros países de nível econômico semelhante. O impacto direto dessa defasagem aparece nos números: em 2022, cerca de 13% do Produto Interno Bruto (PIB) foram consumidos por despesas logísticas, somando R$ 1,3 trilhão — quase o dobro da média registrada em países desenvolvidos. Para a indústria, o frete chega a representar 15% do valor final do produto.
Embora o modal rodoviário concentre mais de 60% da movimentação de cargas no Brasil, ele segue operando em condições precárias. O relatório ainda aponta que as políticas públicas continuam priorizando o escoamento de commodities para exportação, enquanto o transporte rodoviário destinado ao mercado interno carece de investimentos, planejamento e atenção. O resultado é um sistema sobrecarregado, com rodovias mal conservadas, inseguras e pouco eficientes, o que eleva os custos e compromete a competitividade nacional.
Para José Alberto Panzan, diretor da Anacirema Transportes e presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de Campinas e Região (SINDICAMP), o foco das políticas públicas está desalinhado com a realidade do setor. “Não podemos mais tratar infraestrutura como um problema crônico, e sim como uma prioridade nacional. Cada real investido de forma inteligente nesse setor representa ganho em produtividade, geração de empregos e competitividade de mercado”, afirma.
Para além das rodovias em más condições, outros gargalos vêm impactando diretamente os custos e a eficiência do transporte rodoviário de cargas. O executivo também destaca: “A baixa intermodalidade, a superlotação dos portos, a falta de centros de distribuição e a burocracia são barreiras silenciosas que pesam na operação. Some-se a isso a escassez de mão de obra qualificada e a adoção limitada de tecnologia, e temos um cenário de atraso logístico que onera toda a cadeia produtiva”, explica.
A ausência de planejamento de longo prazo por parte do poder público é outro fator apontado como crítico. Sem diretrizes claras e investimentos contínuos, as empresas enfrentam dificuldades para prever e controlar seus custos operacionais. “Ficamos vulneráveis a aumentos inesperados, desvios de rotas e manutenções emergenciais. Isso compromete a previsibilidade e dificulta o planejamento financeiro, tanto para transportadoras quanto para embarcadores”, observa Panzan.
Segundo a Pesquisa CNT de Rodovias 2024, 67,5% da malha pavimentada no Brasil apresentam algum tipo de deficiência, seja no pavimento, na sinalização ou na geometria da via. O estudo reforça a necessidade urgente de investimentos contínuos para garantir melhores condições de trafegabilidade, segurança e eficiência no transporte rodoviário. Diante desse cenário, a modernização da infraestrutura já existente se mostra como uma das alternativas mais eficazes no curto e médio prazo.
“Modernizar é mais barato e mais rápido do que construir do zero. Investir em manutenção, tecnologia de rastreamento e gestão integrada aumenta a produtividade e reduz o desperdício. Não faz sentido abrir novas frentes se o básico continuar abandonado”, pontua o executivo.
Além disso, José Alberto Panzan ressalta a importância de as empresas estarem alinhadas aos sindicatos de base, que atuam ativamente na representação do setor junto ao poder público. “Levamos as demandas reais do setor aos governos estadual e federal, sempre com foco em soluções práticas e viáveis. Nosso papel é mostrar que, sem logística eficiente, não há competitividade possível”, reforça.
Com planejamento estratégico, investimentos consistentes e diálogo institucional, é possível construir uma infraestrutura à altura das demandas do país e garantir mais eficiência, competitividade e desenvolvimento sustentável para o transporte de cargas.
“Não se trata apenas de atender às necessidades do presente, mas de preparar o setor para o futuro. Precisamos de uma visão de longo prazo que una responsabilidade pública, compromisso empresarial e ações concretas. Só assim conseguiremos transformar a logística brasileira em um verdadeiro motor de desenvolvimento”, conclui Panzan.
Fonte: NTC&Logística
