Publicado em: 06/02/2025

O Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais está testando em campo uma tecnologia que pode reduzir significativamente as emissões de poluentes em  caminhões, especialmente o dióxido de carbono (CO?) – gás que é produzido pela queima de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural.


A novidade é um material absorvente de CO? desenvolvido ao longo dos últimos 20 anos com apoio de grandes empresas e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).


Nos últimos testes realizados, o material foi capaz de capturar algo entre 7,7% e 17,2% de dióxido de carbono produzido pelo sistema de combustão de caminhões.


Esses índices foram alcançados em situações reais de circulação, em testes realizados já em campo, e não apenas em laboratório. No teste que gerou os resultados citados, um  caminhão percorreu cerca de 170 quilômetros, passando por trechos rodoviários, urbanos e rurais, em um trajeto de cerca três horas e meia. A captura de 7,7% foi alcançada na circulação total do trajeto; a de 17,2%, no percurso urbano.


O sistema funciona com a instalação de um reator diretamente nos caminhões. Esse reator recebe um material absorvente, que são esferas de cerca de um centímetro de diâmetro, que realiza uma reação química com o gás quando ambos entram em contato em determinada temperatura.


Assim, à medida que o caminhão vai circulando e seu sistema de combustão libera CO?, o material faz a captura desse gás, impedindo que ele seja remetido à atmosfera. Retido, o gás pode ser regenerado e reutilizado controladamente pelas várias indústrias que se valem desse insumo, como a química e a de alimentos.


A metodologia utilizada no caminhão para a captura do gás e sua medição é chamada de Real Driving Emissions (RDE), desenvolvida em 2016 e implantada na Europa em 2017. Segundo Jadson Cláudio Belchior, professor do Departamento de Química da UFMG, a metodologia está atualmente em fase de homologação no Brasil.


“Até então, medições desse tipo eram todas feitas em laboratório, onde o veículo e seus parâmetros, como a rotação e o torque do motor, são monitorados e bem controlados. Com a RDE, o veículo sai efetivamente para a rua, o que possibilita alcançar um resultado mais condizente com as emissões reais de seu uso”, explica o professor.


Patente registrada

O depósito do último pedido de patente relativo à tecnologia foi realizado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) no dia 23 de janeiro, mas as pesquisas da equipe de Jadson são desenvolvidas desde 2007. De lá para cá, cerca de 20 patentes foram registradas no Brasil e nos EUA, de modo a estabelecer as propriedades industriais dos avanços parciais que, relacionados ao invento, foram sendo alcançados. Algumas dessas inovações dizem respeito, por exemplo, ao aumento da resistência mecânica do material, que hoje já é capaz de operar em vários ciclos de captura e regeneração do CO?.


Jadson rememora a história de concepção da inovação. “De modo geral, essa história se organiza em três etapas. A primeira vai de 2007 a 2009, quando fizemos o nosso primeiro depósito de patente relacionado a um material cerâmico capaz de capturar CO?. Na época, conseguíamos fazer a captura em uma temperatura de cerca de 600 ºC, o que já era um avanço. A segunda etapa ocorreu sobretudo de 2015 a 2018, quando empresas como a Petrobras e a Fiat [hoje Stellantis] se envolveram no financiamento do projeto”, ele lembra.


Na época, o material foi aprimorado, de forma a se conseguir a captura do CO? em temperaturas de cerca de 300 ºC.


A terceira etapa ocorreu após a pandemia. Em 2021, foi preparado novo projeto em parceria com o Instituto Nacional de Tecnologia (INT) e com uma indústria de veículos. Em seguida, em 2022, esse projeto foi contemplado com recursos do Programa Rota 2030 – Mobilidade e Logística do Governo Federal, que fomenta o desenvolvimento do setor automotivo do país. O novo projeto possibilitou alcançar os atuais percentuais de captura do gás.

Mobilidade verde

“Montadoras de veículos colocaram como expectativa o patamar de 8% de captura de CO? só em 2040. Nós estamos alcançando esse percentual de captura 15 anos antes”, comemora Jadson.


O pesquisador lembra ainda que os resultados obtidos com a inovação vão ao encontro das metas estabelecidas pelo Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), criado pelo governo federal no ano passado como desdobramento do Rota 2030, que já visava reduzir em 50% as emissões de carbono até 2030, em relação às emissões de 2011.


Com o novo programa, o objetivo é estimular mais diretamente os investimentos em novas rotas tecnológicas e aumentar as exigências de descarbonização da frota automotiva brasileira, incluindo carros de passeio, ônibus e  caminhões. Para isso, planeja-se expandir os investimentos em eficiência energética no país.


A tecnologia desenvolvida no projeto de Jadson Belchior possibilita a captura do CO? em temperaturas na faixa de 100 ºC. Ele vislumbra a possibilidade de se fazer a captação em temperaturas ainda menores, o que será particularmente importante para reduzir o custo energético e viabilizar economicamente o processo. Segundo o professor, a tecnologia desenvolvida se mostra promissora para a captura não apenas em veículos, mas também em estruturas industriais emissoras de CO?.

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Fonte: Blog do Caminhoneiro

UFMG desenvolve tecnologia que absorve poluição de caminhões